Risos e reflexões com muito talento
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 21 de junho de 1989
Jean Claude Bernardet, um dos mais respeitados ensaístas de cinema, autor de uma obra valiosa e a qual acrescentará no próximo mês um volume sobre o cinema de Julio Bressane e Rogério Sgarzela, ficou fascinado por "Caramujo Flor", o curta-metragem que Joel Pizzini realizou a partir da obra poética de Manoel de Barros. Com sua erudição cinematográfica, que faz ver o cinema com uma profundidade bem mais ampla, Bernardet se entusiasmou com a linguagem que Pizzini desenvolveu em seu curta - candidato natural a algumas premiações em Gramado, mas que acabou ficando sem nenhum Kikito. Afinal, o impacto social-emotivo de "Ilha das Flores" foi tão grande que acabou levando a maioria das premiações na categoria. Mas Pizzini não tem motivos para se queixar: ganhou amplos espaços na imprensa e elogios para o seu filme.
Já "A Mulher do Atirador de Facas", do paulista Nilson Villas Boas, ficou com o Kikito de melhor direção e valeu ainda mais um (o terceiro) Kikito de melhor atriz para Carla Camuratti. Com um argumento simples (o atirador de facas e sua mulher realizam seu perigoso número com total segurança, mas sob duas condições: ela não pode engravidar, nem usar roupa vermelha durante o número, pois essa cor tem o poder de desequilibrá-lo. Um dia ela chega ao picadeiro vestindo vermelho, forma dramática de anunciar que estava grávida), Villas Boas, com apoio de quatro psicólogas paulistas - Heidi Tabacof, Marta Assolin, Cida Aidar e Maria Lúcia Arroyo Lima - fez um dos curtas que, a exemplo de "Caramujo Flor", provoca reflexões e debates. Em compensação, também foram apresentados filmes claramente anedóticos, a partir de uma boa piada. É o caso do mais curto dos curtas (apenas 6 minutos) de uma crônica de Luís Fernando Veríssimo - "O Brinco", de Flávia Moraes, com a participação de Carlos Moreno, do anúncio do Bombril. Já uma piada ampliada exaustivamente - o que prejudicou sua comunicação - foi "Memórias de um Anormal", da dupla Inácio Zatz e Ricardo Dias, com uma narrativa em inglês e seqüências bem colocadas. Também buscando o humor - mas com um sentido crítico - "O Nariz", de Eliane Caffe, valeu pela boa interpretação de Carlos Gregório - mesmo ator de "A Porta Aberta", do carioca Aluízio Abranches. Enfim, trabalhos para conquistar o mercado - e muito bem realizados tecnicamente.
LEGENDA FOTO - Carla Camuratti recebeu o Kikito de melhor atriz, por sua atuação no curta "A Mulher do Atirador de Facas". Em 1982 ("O Olho Mágico do Amor") e em 1988 ("Pagú"), Carla Camuratti já havia também obtido premiações em Gramado.
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