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Aramis

Risos e reflexões com muito talento

Jean Claude Bernardet, um dos mais respeitados ensaístas de cinema, autor de uma obra valiosa e a qual acrescentará no próximo mês um volume sobre o cinema de Julio Bressane e Rogério Sgarzela, ficou fascinado por "Caramujo Flor", o curta-metragem que Joel Pizzini realizou a partir da obra poética de Manoel de Barros. Com sua erudição cinematográfica, que faz ver o cinema com uma profundidade bem mais ampla, Bernardet se entusiasmou com a linguagem que Pizzini desenvolveu em seu curta - candidato natural a algumas premiações em Gramado, mas que acabou ficando sem nenhum Kikito. Afinal, o impacto social-emotivo de "Ilha das Flores" foi tão grande que acabou levando a maioria das premiações na categoria. Mas Pizzini não tem motivos para se queixar: ganhou amplos espaços na imprensa e elogios para o seu filme. Já "A Mulher do Atirador de Facas", do paulista Nilson Villas Boas, ficou com o Kikito de melhor direção e valeu ainda mais um (o terceiro) Kikito de melhor atriz para Carla Camuratti. Com um argumento simples (o atirador de facas e sua mulher realizam seu perigoso número com total segurança, mas sob duas condições: ela não pode engravidar, nem usar roupa vermelha durante o número, pois essa cor tem o poder de desequilibrá-lo. Um dia ela chega ao picadeiro vestindo vermelho, forma dramática de anunciar que estava grávida), Villas Boas, com apoio de quatro psicólogas paulistas - Heidi Tabacof, Marta Assolin, Cida Aidar e Maria Lúcia Arroyo Lima - fez um dos curtas que, a exemplo de "Caramujo Flor", provoca reflexões e debates. Em compensação, também foram apresentados filmes claramente anedóticos, a partir de uma boa piada. É o caso do mais curto dos curtas (apenas 6 minutos) de uma crônica de Luís Fernando Veríssimo - "O Brinco", de Flávia Moraes, com a participação de Carlos Moreno, do anúncio do Bombril. Já uma piada ampliada exaustivamente - o que prejudicou sua comunicação - foi "Memórias de um Anormal", da dupla Inácio Zatz e Ricardo Dias, com uma narrativa em inglês e seqüências bem colocadas. Também buscando o humor - mas com um sentido crítico - "O Nariz", de Eliane Caffe, valeu pela boa interpretação de Carlos Gregório - mesmo ator de "A Porta Aberta", do carioca Aluízio Abranches. Enfim, trabalhos para conquistar o mercado - e muito bem realizados tecnicamente. LEGENDA FOTO - Carla Camuratti recebeu o Kikito de melhor atriz, por sua atuação no curta "A Mulher do Atirador de Facas". Em 1982 ("O Olho Mágico do Amor") e em 1988 ("Pagú"), Carla Camuratti já havia também obtido premiações em Gramado.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
21/06/1989

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