As rosas que viraram um elefante (branco)
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 06 de julho de 1976
Concretizado o negócio já há alguns meses, um poderoso grupo econômico francês, do qual faz parte inclusive o Credyte Lionnais (uma das maiores organizações bancárias da Europa), não decidiu como aproveitar a imensa área onde, até há um ano, existia a mansão das rosas, - na Avenida João Gualberto. O projeto original - a construção de duas torres de apartamentos classe "a", preservando todas as árvores ali existentes - foi por água abaixo, com a nova lei de zoneamento.
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Há quase 150 anos, o coronel Caetano José Munhoz instalou o seu "Engenho da Glória", que viria dar nome ao bairro, construindo ali então a sua primeira mansão. Posteriormente, Francisco Fasce Fontana, industrial até então residente em [Montevidéu], onde já estava vinculado aos negócios do mate no Uruguai, adquiriu a propriedade do coronel Munhoz. Nos últimos 100 anos, o local sofreu muitas transformações, mas sempre nas mãos da família Fontana. Ali, a última proprietária do imóvel, Mercedes Fontana, manteve por anos, um dos mais belos roseirais do País.
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A avançada idade de dona Mercedes, o fato de o imóvel ter 8 herdeiros, filhos de dois casamentos do velho Francisco Fido Fontana e, principalmente, a ameaça dele vir a ser tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico, fizeram com que a família decidisse derrubar a velha mansão (que há muitos anos já apresentava sérios problemas estruturais) e vendê-lo. Todas as tentativas feitas pelo arquiteto Sérgio Todeschine Alves, diretor do DPHA-SEC, em encontrar uma solução capaz de preservar a casa, fracassaram. E o terreno - uma área privilegiadíssima, com algumas dezenas de árvores centenárias - pertence hoje a um grupo econômico multinacional, que ainda não se decidiu (ao menos publicamente) qual o destino que dará ao patrimônio.
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Um advogado paranaense, conhecendo o cipoal burocrático municipal e preocupado com o desestímulo que tomou conta dos novos proprietários da área, após a Lei do Zoneamento, fez uma recomendação bastante bem humorada:
- A solução é entregar o projeto a um arquiteto ligado ao Ippuc. Daí, com toda a certeza, o projeto poderá ser aprovado.
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