Rovai & a pornochanchada
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 09 de novembro de 1977
Pedro Carlos Robai, 37 anos, paulista de Ourinhos, 15 anos de cinema, consegue um equilíbrio raro: de um lado, como diz João Aracheski, superintendente da Fama Filmes, o seu nome, na produção de um filme, significa esperanças de ótima bilheteria. De outro, desde sua estréia no longa-metragem em "Adultério à Brasileira! (1969), é reconhecidamente um cineasta caprichoso, de talento e imaginação. Mesmo em produções comerciais como "A Viúva Virgem" - que já faturou mais de Cr$ 40 milhões e será relançada em breve - e "Ainda Agarro Essa Vizinha", procurava dar uma dimensão inteligente, "o quanto possível", à pornochanchada. Diretor de 4 longas-metragens - e mais dois "sketchs" (um dos quais, inédito, esperando ocasião para ser encaixado em outro filme), Rovai tem, nos últimos anos dedicado-se apenas a produção. E foi como produtor de "Gente Fina é Outra Coisa..." (cines Bristol, Rivoli e São João, a partir de sábado), que aqui esteve, no início da semana. Ontem, Rovai viajou para Porto Alegre, num cuidadoso trabalho de "marketing" deste seu novo filme - custo de Cr$ 1.500.000,00, renda já de Cr$ 4 milhões, apenas no Rio de Janeiro.
Crítica bem humorada e, naturalmente, erótica, do "beautiful people" carioca, "Gente Fina é Outra Coisa" foi sugerida, em sua primeira estória ("A Guerra da Lagosta") de uma crônica paulistana do rico advogado Graça Motta, pai do jornalista Nelsinho Motta, que, junto com sua irmã, Gracinha, colaborou no roteiro, desenvolvido por Antônio Calmon, Leopoldo Serran, Mauro Rasi e o próprio Robai. Realizado o primeiro "sketch", partiu-se para a produção de mais duas estórias - "Chocolate ou Morango?" e "O Prêmio", estórias e direção de Antônio Calmon, cineasta que anteriormente fez o hermético "Capitão Bandeira Contra o Dr. Moura Brasil" e "Paranóia". O resultado é um filme de fácil comunicação, com belas mulheres - a khouriniana Selma Egrei, Maria Lúcia Dahl, Kátia D'Angelo, Márcia Rodrigues, Louise Cardoso e Marieta Severo - a sra. Chico Buarque de Hollanda.
O título "Gente Fina é Outra Coisa" - tão bom que Rovai já pensa em fazer uma segunda parte do filme - foi sugerido apenas após a produção estar concluída. Antônio Bivar, teatrólogo, tinha uma peça com este título, mas acabou vendendo o nome. A trilha sonora do filme foi criada por Odair José, que, assim, de repente, passa de cantor das domésticas ao compositor das grãs-finas. "E com muita competência", garante Rovai.
Maria Lúcia Dahl, primeiro nome do elenco do filme, vem a Curitiba no sábado. Sua loira presença enfeitará as páginas dos jornais e os vídeos de televisão, ajudando o "merchandising" desta produção sofisticada e que deverá faturar um mínimo de Cr$ 500 mil, na primeira semana, em Curitiba. "Se render menos, brinca Rovai, nunca mais exibirei meus filmes por aqui".
Falando em cinema, muitos dos filmes que estão sendo lançados no Cinema 1, nesta semana, dificilmente terão exibição comercial na cidade. Fitas como "Vida e Morte Severina", "Gordos e Magros", "Ladrões de Cinema", entre outras, não interessam aos exibidores devido as poucas possibilidades comerciais. Assim quem as está assistindo, muito bem! E quem não vai às sessões das 22 horas, ficará sem conhecer esses filmes elogiados e premiados.
LEGENDA FOTO - Marieta e Maria Lúcia Dahl, em filmagem.
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