Scliar, cinema & Bosco
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 02 de setembro de 1976
Só à 00:30 horas da manhã, quando o arquiteto Júlio Pechmann convidou os últimos retardatários na vernissage de Carlos Scliar, para uma esticada em sua mansão hollywoodiana, é que o marchand-de-tablaux Jorge Carlos Sade pode começar a apagar as luzes da galeria Acaiaca. Dos 33 quadros em exposição, o atencioso Nélio anotava, com um sorriso colgate, que nada menos que 25 já estavam vendidos. Na entrada da galeria, a maior das corbélias enviadas tinha um cartão com os nomes das Sras. Ida Axelrud e Anita Guelman, proprietárias de uma galeria de arte, o que mostra que, após alguns mal entendidos com Sade, houve agora uma pacificação geral em nosso mundo plástico. Enfim, a inauguração da exposição de Scliar repetiu o que sempre acontece na Acaiaca: o prestigiamento de nomes representativos (afinal, parece que os indesejáveis penetras das vernissages começam a desaparecer) e, sobretudo, excelentes vendas.
Mais tranquilo do que nas vezes anteriores, Scliar desdobrava-se em atenção para com todos os convidados, intercalando explicações didáticas sobre suas telas com citações de filmes. Ele que é um entusiasta cinemaniaco. Aliás, ele próprio realizou um filme lendário, "Escadas", em 1944, do qual imaginava que tinha se perdido todas as cópias. Agora, através de seu amigo Paulo Emílio Salles Gomes, da Cinemateca de São Paulo, teve notícias de que teria sido encontrado partes de uma última cópia.
Aos 56 anos, expedicionário na ll Guerra Mundial (foi cabo da artilharia), desde 1960 um dos pintores de maior mercado nacional, Scliar não obedece uma sistemática quantitativa em seu trabalho : assim como pode fazer 10 telas num único dia, em seus ateliers de Ouro Preto ou Cabo Frio, pode também permanecer semanas inativo. Este ano, só agora começou a expor: após Curitiba, inaugura em Porto Alegre uma mostra nostálgica, ao lado de trabalhos de Glauco Rodrigues, Glênio Bianchetti e Danúsio Gonçalves, seus companheiros do centro de gravuras de Bagé, de 1950, mostrará quadros recentes - em relação aqueles de 26 anos passados.
Um dos maiores amigos do compositor João Bosco, a quem muito estimulou, em seu início de carreira, Scliar só criou a capa de seu primeiro elepe. Acredita que, pela própria força nas músicas de Bosco e Aldir Blanc, aproximam-se as cores de Glauco Rodrigues, que foi autor das capas dos elepes "Caça à Raposa" e "Briga de Galos" , este recentemente lançado e desde já considerado um dos melhores do ano. Uma notícia de primeira mão: Bosco vai gravar um álbum duplo, com músicas compostas entre 1970/75, num estilo bastante diferente daquelas que o público acostumou-se ao ouvir nos últimos meses.
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