A Semana Musical
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 28 de abril de 1978
Lançado em 1977, "Comigo é Assim", terceiro lp de Emílio Santiago na Phonogram, mostrou o excelente vocalista num repertório de músicas inéditas. E a temporada que encerra hoje, ao lado de Leny Andrade (em breve, com seu novo disco, pela RCA Victor), dentro do Projeto Pixinguinha (Auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, 18h30min) permite aplaudir ao vivo este cantor, revelado em 71 - e hoje entre os nossos grandes interpretes.
O filme que o francês François Reichenbach fez sobre o jogador Pelé ainda não tem data de lançamento no Brasil, mas sua trilha sonora, editada pela Warner, já está nas lojas, num trabalho de Sérgio Mendes, com vocais de sua esposa, Gracinha Leporace, solos de sax barítono e soprano de Gerry Mulligan, e até a voz de Pelé, a quem é creditada a autoria de duas faixas: "Meu Mundo e uma Bola" e "Cidade Grande".
No campo das músicas, dois destaques: o excelente "Plataforma" (João Bosco- Aldir Blanc), lançada pelo Quarteto em Cy, e a documental "Praça da Sé", de Adoniram Barbosa, na voz do próprio, em compacto simples (Continental). E, dos paranaenses e rock "Buraco no Coração" criação coletiva dos meninos "A Chave), lançado em compacto simples da GTA, merece a atenção.
Afinal é o primeiro registro que A Chave, um grupo há dez anos na estrada sonora, faz em disco.
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Há algumas semanas, passou pela cidade, fazendo shows no restaurante Mouraria, um compositor da noite paulista que há muitos anos merecia ser mais conhecido: Lúcio Cardim. Aos 44 anos, mais de 20 de vida profissional, quase 100 musicas e uma dezena delas já gravadas, tem, constantemente, o seu maior êxito, "Matriz ou Filial", atribuída ao gaúcho Lupiscinio Rodrigues (1914-1974). É que o grande interprete das musicas do gaúcho Lupe, Jamelão (José Bispo, 54 anos), foi também quem, em 1964, lançou "Matriz ou Filial"- desde então um dos pontos altos de seu repertório. O disco de Lúcio Cardim ("Obra Prima", Chantecler), foi colocado em nosso Conselho, há duas semanas. Hoje, aqui trazemos o mais recente disco de Jamelão, sem duvida um dos melhores cantores brasileiros.
Veterano vocalista da noite carioca, tendo iniciado na época dos dancings, Jamelão tem imensa discografia, sempre na Continental, onde se encontra desde 1946. Sua voz é forte, personalíssima, com gosto de Brasil como nos falava, admiração, a grande Maysa Monjardim (1936-1977), em sua última entrevista, citando Jamelão como um de seus cantores favoritos. Há muitos anos que Jamelão não vem profissionalmente a Curitiba. Particularmente, tem eventualmente, estado por aqui, a convite de amigos da Secretaria da Segurança Pública, já que ele é policial, no Estado do Rio de Janeiro. Seria ótimo que o show que Jamelão fez, junto com a Orquestra Tabajara, de Severino Araújo, na série "Seis e Meia", no Teatro João Caetano, tivesse sido incluída no Projeto Pixinguinha. Mas, infelizmente, o alto custo daquela produção, inviabiliza esta oportunidade. E a voz de Jamelão é perfeita acoplada a uma grande orquestra, de metais, como a que o acompanha, nas 12 faixas de seu novo lp (" O Samba é Bom Assim / O morro e a boite na voz de Jamelão", Continental/Musicolor, 1.04.703.145, abril/78). No lado A, Jamelão abre com um clássico de Noriva Reis - Hélio Nascimento ("O Samba é Bom Assim") e passa por outros grandes sambas marcantes, falando de amor & dor, encontros e desencontros: "Solidão" (Guaxinin-Floriano Bastos), "Decisão" (Jorge Duarte-José Batista), "Nostalgia" (Astor Silva-Zeca do Pandeiro), "Falta de Queda"(Ari Valério Elto Medeiros) e "Eu Sofro Também" (Bolivar Duarte-Geraldo Quirino). Jamelão também é compositor, e em quatro faixas mostra seu talento criativo: "Que Onda é Essa", "Águas Passadas" (parceria com Edgardo Luís), "A Saudade Já Chegou" (parceria com Norival Reis) e o divertido "Já é da Gamboa", parceria com o baiano Batatinha.
Jamelão sem Lupiscinio não é Jamelão. Assim, ele canta também o clássico "Exemplo", uma das mais belas músicas de Lupiscinio, feita especialmente para sua esposa, que sempre compreendeu seus pecados de boêmio. Ouvindo-se Jamelão, sua voz e a beleza dos arranjos deste disco, sentimos orgulho da MPB. Lamentável, apenas, que na contracapa não conste a menor informação sobre o interprete e, principalmente, os integrantes da ótima orquestra que o acompanha.
Sidney Magal não é o primeiro, nem será o último: um produto de consumo. Ditado pelas regras de marketing para se tornar um apelo erótico a um público feminino, de pouca cultura, mas que o "curte" de forma impressionante. E garante a venda de milhares de cópias de seus discos, geralmente na base de versões das mais cafonas. O seu último lp (Phonogram/Polydor), é no mesmo esquema, e os títulos das canções (?) já definem sua "essência". "Quero Abraçar-me aos Teus Pés", "A Grande Noite", "E Tu me Aplaudes", "Estou te Acostumando Mal" etc
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Para compensar, a música do pianista Pedrinho Mattar, instrumentista com família radicada em Curitiba, é das mais agradáveis. Ocupando na noite em shows, Pedrinho tem gravado muito pouco, o que fez dos mais oportunos o seu reaparecimento, com um agradável lp pela Copacabana.
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Na área internacional, dois destaques: dentro da latinidade, um lançamento absolutamente indispensável "Mercedes Sosa interpreta Atahualpa Yupanqui" (Philips), com a cantora argentina revisitando o grande compositor e violonista, que, sexagenário, reside há mais de dez anos em Paris. E, na faixa pop, o grupo Queen, em "News of the World", apresenta um som bastante vigoroso.
LEGENDA FOTO 1 - Adoniram Barbosa.
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