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Aramis

Spartacus & Kubrick (I)

Realizado há 17 anos, "Spartacus" (cine Bristol, sessão única às 20 horas) continua a ser um dos mais vigorosos filmes do cinema americano na década passada e, sem favor nenhum, talvez a última grande superprodução de Hollywood, no gênero dito histórico. Longe, muito longe, dos cenários de papelão das produções de Cecil Blount De Milles e mesmo de pretensas grandes realizações, assinadas por cineastas responsáveis - como "Quo Vadis?" de Mervyn Le Roy (1951) ou "Bem Hur" de William Wyller (1959), "Spartacus" foi um filme inteligente, político e consciente, méritos devidos em grande parte ao admirável roteiro que Dalton Trumbo (1905-1976) preparou com base no romance de Howard Fast, como ele, também vítima das perseguições do Comitê de Atividades Anti-Americanas, criado pelo senador Joseph R. McCarthy (1909-1957), em 1948. "Spartacus" pode ser visto de muitas maneiras. Para o grande público - e isso justifica as boas rendas que obtém em suas constantes reprises, é um filme de ação: a história do gladiador que ameaçou o poderoso imperador romano, anteriormente já tema de um modesto filme em preto-e-branco italiano, oferece, evidentemente, condições para seqüências movimentadas, batalhas e mesmo momentos de amor, entre o herói e a escrava Varinia (Jean Simons, no auge de sua beleza). Mas "Spartacus" é, sobretudo, um estudo do poder e da ambição, representada principalmente na batalha que os senadores Gracchus (Charles Laughton) e Marcus Crassus (Laurence Olivier) travam a propósito da necessidade de fortalecer o império e enfrentar o inimigo. Foi produzido por Kirk Douglas convidou para dirigi-lo, o então jovem Stanley Kubrick, que 3 anos antes havia realizado um extraordinário filme antibelicista, "Glória Feita de Sangue", (Paths of Glory, 57), estrelado por Kirk Douglas. Aos 30 anos com o sucesso de "Glória Feita de Sangue". Apesar do milhão de dólares que o filme rendeu, Kubrick não recebeu nem um dólar extra por aquele trabalho. Depois de trabalhar no roteiro de "One Eyed Jacks" ("A Face Oculta", que Marlon Brando dirigiu em 1961), para cuja direção chegou a ser cogitado, Kubrick foi convocado, às pressas para substituir Anthony Mann, que desistiu de filmar "Spartacus", uma semana após o início da produção. O contrato com a Universal, entretanto, limitou bastante o seu trabalho, o que entretanto não o impediu de, junto com Trumbo, reescrever várias seqüências e, mesmo enfrentando violentas discussões com o ator-produtor Douglas, introduzir muitas colocações pessoais, atualizando e conseguindo dar extraordinária dignidade a história. Para um cineasta que vinha de produções modestas (documentários "Day of the Fight" e "Flying Padre", 51/52; "Fear And Desire", 53; "A Morte Passou Por Perto/Killer's Kiss", 55; "O Grande Golpe/The Killing", 56 e "Morte Sem Glória", 57), "Spartacus" constituiu um desafio: um superespetáculo com orçamento de 12 milhões de dólares com superastros - Olivier, Douglas, Jean Simmons, Laughton, Peter Ustinov, Tony Curtis, John Gavin etc. extras e técnicos que chegaram a 10.500 pessoas (incluindo 8 mil soldados espanhóis nas cenas de batalha). Os exteriores foram rodados nos arredores de Madri e os interiores na Califórnia, em tempo record: 165 dias. A reprise de "Spartacus" é a oportunidade dos espectadores jovens conhecerem um pouco mais da obra de Kubrick, uma vez que seus primeiros filmes não chegam mesmo nem através da televisão, seu "Laranja Mecânica" (1972) continua proibido e seu último filme "Barry Lyndon" embora liberado pela censura, ainda não foi lançado por um motivo justo; a copia produzida no Brasil adulterou tanto as cores belíssimas do original, que Kubrick interditou o lançamento.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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Tablóide
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16/01/1977

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