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Aramis

Sublime Maravilha (II)

"Today the world was just an address, A place for me to live in No better than a right But here you are And what was just a world is a star" (Stephen Sondheim) "Amor Sublime Amor" (Cine Lido, hoje as três últimas exibições) é o melhor filmusical da história do cinema. E um dos melhores filmes de todos os tempos. Mais do que uma opinião pessoal, um consenso da crítica mundial em torno dessa obra-prima, que, em tão boa hora, a UIP relança uma cópia original, na qual, mesmo com a cor um tanto desgastada (o grande drama dos filmes coloridos, conforme alertava já há anos o cineasta Martin Scorcese), a emoção é imensa. A poesia das letras de Stephen Sondheim, numa tradução perfeita de S. da Rocha Spiegel, conseguindo atualizar a gíria nova-iorquina dos anos 50 sem prejuízos da beleza estética das canções, a música grandiosa e envolvente de Leonard Bernstein, a coreografia de Jerome Robbins, a direção sempre segura de Robert Wise, tudo, enfim, unindo-se para a perfeição desse filme que, ao contrário da maioria dos musicais, conseguiu integrar a dramaticidade da história às canções. Nada é gratuito, em seus 155 minutos de projeção. Os cortes são perfeitos. A coreografia não poderia ter ajustamento melhor. Mantendo-se basicamente fiel à montagem teatral - poucas canções foram alteradas em sua ordem e mínimos personagens adaptados - "Amor Sublime Amor" é o exemplo do filme que jamais se repetirá. Aconteceu num momento de mágica integração, com os intérpretes, na época, na faixa dos 30 anos - e por isto mesmo, há 24 anos passados, merecidamente recebeu dez Oscars ("Ben-Hur", no ano anterior, havia ganho 11 estatuetas). Concorrendo com filmes vigorosos como "Desafio a Corrupção" (Robert Rossen) e "Julgamento em Nuremberg" (Stanley Kramer), foi o melhor filme, vencendo também nas categorias de atriz coadjuvante (Rita Moreno), ator coadjuvante (George Chakiris), direção (Roberto Wiese/Robbins), direção de arte (Boris Leven), fotografia em cores (Daniel L. Fapp); guarda-roupa (Irene Sharaff), montagem (Thomas Stanford), trilha sonora musical (Saul Chaplin/Johnny Green/Sid Ramin/Irwin Kostal). Mesmo que se questione a validade ou não do Oscar, um fato é inegável; poucas vezes os membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood agiram tão acertadamente. xxx Criando no cinema o papel que Carol Lawrence havia consagrado no palco do Winter Garden Theatre, Natalie Wood (1938-1981) compôs uma Maria terna e emocionante. Richard Beymer, que ganhou a sorte grande de fazer o personagem Tony (no palco, vivido originalmente por Larry Kert) não chegou a fazer carreira no cinema. Rita Moreno, como, Anita (papel original de Chita Rivera) e George Chakiris (Bernardo) transmitiram uma intensa carga de dramaticidade hispânica em seus personagens. Todo o elenco de apoio - os "Jets" e os "Sharks", foram escolhidos com um critério especial, considerando-se não só os méritos dramáticos mas, principalmente, a qualidade de dançarinos - fundamental em mais de 80% das seqüências. A trilha sonora é perfeita por alternar justamente canções de extraordinário lirismo - como "Maria", "Somewhere", o humor cáustico/crítico/social ("América", "I Feel Pretty", "Gee, Officer Krupke") e os momentos maiores - "Tonight". Fazer com que se passe de um momento de amor para a ação dramática, devolver o romantismo após uma tragédia - tudo através de canções e danças, conduzem em "Amor Sublime Amor" ao Olimpo das obras de arte. A resistência deste filme, 24 anos após sua realização, é o exemplo maior de que os reais trabalhos artísticos não envelhecem. "West Side Story" será eterno.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
08/02/1985

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