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Aramis

Uma história de amor e canções

Aos cinco anos, ela já cantava em festinhas de família. Encantava com o jeitinho brejeiro e voz afinada. Na época, a única rádio da cidade era a PRB-2, a Clube Paranaense, funcionando ainda no belvedere do Alto São Francisco. A cidade não chegava aos l00 mil habitantes. E todos se conheciam. Foi pelas ondas da Rádio Clube Paranaense que os curitibanos aprenderam a conhecer e amar a bonita voz de Stelinha Egg. Filha de uma família tradicional, mas com raízes artísticas - seu avô foi o fundador do Teatro Hauer, na Mateus Leme (hoje Cine Bristol, ex- Marabá), a menina Stella Maria, como filha de alemães, também levava sua voz nas reuniões da igreja evangélica. E do canto religioso ao folclórico foi apenas uma questão de informação. Vencendo um concurso de canções folclóricas se transferia, ainda nos anos 40, para São Paulo, com um contrato da Rádio Tupi. Stelinha Egg tornava-se, assim, a primeira cantora do Paraná a deixar os provincianos limites da tímida Curitiba. E ocuparia um espaço nacional, mantendo-se por anos como uma das melhores intérpretes de nossa música popular - especialmente o folclore. xxx Trabalhando em emissoras paulistas - Tupi, São Paulo e Cultura, transferindo-se depois para a Tupi do Rio de Janeiro - Stelinha viria a conhecer um jovem pianista paulista, Lindolfo Gomes Gaia (Itararé, SP, 6/5/1921), com quem viria a se casar em l945. Juntos percorreram muitos caminhos artísticos, no Brasil e no Exterior. Em l950, Stelinha era escolhida a melhor cantora no Congresso Internacional de Folclore, realizado em Araxá, MG. Em l955/56 excursionou pela Europa, com Gaia, apresentando-se em países até então nunca visitados por artistas brasileiros, como a Finlândia e repúblicas soviéticas. Há exatamente 4l anos, Stelinha gravou seu primeiro disco - o 78 rpm com a toada "Uma Lua no Céu... outra lua no mar "(Jorge Tavares e Alaide Tavares) e o coco "Tapioquinha de coco" (Tavares / Amyrton Valin) . Dezenas de 78 rpm e alguns marcantes elepês como "Música do Nosso Brasil "(RGE), "Samba- rancho"( Philips), "Modas e modinhas"e, [especialmente] "Vamos todos cirandar"(cantando canções de rodas com As Meninas da Casa de Lázaro) e "Luar do Sertão ", com clássicos de Catulo da Paixão Cearense, Ernesto Nazaré e Anacleto de Medeiros. Paralelamente a carreira de Stelinha como cantora, Gaia se firmaria como um dos grandes arranjadores, maestros e pianistas do Brasil. Trabalhou mais de 20 anos junto a RCA e Odeon, participando diretamente de milhares de gravações. Em julho último, quando chegou ao Fercapo, em Cascável, Paulinho da Viola nos perguntou por Gaia. Preocupou-se ao saber que ele estivera adoentado e mandou um recado ( gravado em fita cassete) ao velho amigo: - "Gaia, andei procurando por você para fazer os arranjos do meu disco. Quero a tua colaboração. Voce é o melhor". Paulinho - como tantos outros grandes nomes da nossa música - tem uma grande gratidão com Gaia. "Sinal Fechado ", que em l969 venceu o V Festival de MPB da TV Record, é considerado um clássico especialmente pelo arranjo e introdução. "Mérito de Gaia, que faço questão sempre de lembrar", diz Paulinho. Gaia tem uma contribuição imensa a música brasileira. Participando de milhares de gravações, fazendo arranjos e orquestrações, atuando como pianista, granjeou respeito idêntico ao que desfrutam seus amigos Radamés Gnattali e Antonio Carlos Jobim - com quem trabalhou por muitos anos . Fez trilhas sonoras para filmes (inclusive do documentário) "Folclore de Cinco Países", de Alexandrov, na URSS), realizou discos e, apesar de merecer uma aposentadoria, continua a produzir belos trabalhos - ao lado de sua esposa e companheira, Stelinha.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Nenhum
20/09/1985

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