Teclados de Herbie e os novatos Max e Ira
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 18 de junho de 1989
Um novo álbum do tecladista Herbie Hancock na praça é sempre motivo para ouriçar os que curtem o som deste inquieto, criativo e sempre renovador compositor-intérprete, que às vésperas de se tornar cinqüentenário continua a despejar uma notável carga de energia em suas gravações como mostra nas seis faixas de "Perfect Machine" (CBS, maio/89). Em 1983, quando chegou a banda de Miles Davis, Herbert Jeffrey Hancock já trazia uma boa bagagem (especialmente por seu trabalho com o trompetista Donald Byrd, que produziu seu primeiro elepê solo). A vivência com Davis, sabidamente um líder que imprime grande influência nos músicos que com ele atuam (a exemplo de Art Blakey) ajudou a solidificar Hancock para, nos anos 60/70 se tornar um dos tecladistas de maiores possibilidades na fussion eletrônica com novas correntes - mas sem nunca abandonar a linha jazzística. Especialmente a partir de 1975, com álbuns como "Thrust", "Death Wish" e "Man Child", definiu seu som híbrido com uma fusão de raízes, soul-funk com elementos do jazz moderno. Mais recentemente, se ligou a trabalhos ainda mais amplos, como os que mostra neste seu "Perfect Machine", no qual pilota nada menos que uma dezena de diferentes teclados moderníssimos para, com apenas algumas participações especiais (como William "Bootsy" Collins no baixo; Mico Wave também em baixos e teclados e Jeff Bova, nos sintetizadores) realizar um trabalho original e de grande força.
Paralelamente a "Perfect Machine", com o já conhecido Hancock, a CBS trouxe duas novidades jazzísticas. A primeira (e mais interessante) é - coisa ainda rara - um álbum solo de uma saxofonista, Jane Ira Bloom ("Slalom"), que com econômico acompanhamento - Kent McLagan (baixo), Tom Rainey (bateria, percussão), e Fred Hersch (piano), mostra seu talento de compositora com os 11 temas incluídos. Jane Ira Bloom, além de tudo uma bela mulher, explica que procura fazer uma música jazzística, respeitando a tradição, criando canções e fazendo improvisações como gosta de ouvir. O resultado é positivo.
A outra novidade jazzística da CBS é o grupo Max Lasser's Ask ("Earthwalk), no qual o guitarrista Max Lasser, liderando um septeto ultra identificado com sua linha de composições, faz uma amostragem com a maior intensidade de temas originais, criados com harmonia e poesia - permitindo-se até uma faixa com bela letra ("The Rose"). Tanto Max Lasser como os músicos aqui reunidos - Christoph Steifel (teclados), Walker Keiser (bateria), Thomas Jordi (baixo), Thommy Weiss (percussão), Mathias Ziegler (flauta, saxofone), Harry Sakai (soprano) e Craig Dean (english horn e Sal Cell) são ainda desconhecidos no Brasil - mas são de uma geração que merece ser ouvida (e anotada) atenciosamente.
LEGENDA FOTO - Jane Ira Bloom: uma (bela) saxofonista no jazz.
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