E a fussion jazzística começou há muito tempo
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 12 de maio de 1988
Para os conservadores do jazz que poderão se irritar com a exagerada eletrificação de violino de Ponty - e dos músicos que o acompanham, é bom que se diga: desde o final dos anos 50 que em nome de uma fussion o jazz tem sido absorvido por instrumentistas de formação de rock mas, inteligentemente, preocupados com uma linguagem mais profunda. Assim como grandes jazzistas - e basta lembrar Miles Davis - também se aproximaram da eletrificação, do balanço, da comunicabilidade jazzística.
Na belíssima coleção Atlantic Jazz, que o WEA acaba de completar agora, com os álbuns "Singers" e "Soul", pelo menos três volumes foram dedicados a mostrar aproximações de bons jazzistas com outras correntes - claro que nem sempre eletrificadas, mas sempre criativas e originais.
Assim, no volume "The Avant-Guarde", há toda uma faixa - "Black Mistery has been revealed", no qual o múltiplo instrumentista e compositor Roland Kirki, já falecido, cego e que conseguia tocar simultaneamente até três instrumentos, gravada há exatamente 20 anos, uma música na qual se dava ao luxo de fazer uma narração, executando clarinete e órgão, além do arranjo para a secção de cordas. Em seguida, Ornette Coleman - saxofonista, pistonista, violinista e até executante de um exótico instrumento chamado shenai, mostrava, num registro feito em 22 de maio de 1959 (portanto há quase 30 anos), as potencialidades de desenvolver de forma free um tema muito apropriadamente chamado de "Eventually", e no qual era acompanhado pelo baixista Charlie Haden (só agora sendo devidamente apreciado no Brasil) e o percussionista Billy Higgins.
O mesmo Haden acompanhava outro vanguardista saxofonista, John Coltrane (1926-1967) em "Cherymcom", tema do trupentista Dom Cherry, também presente na gravação. E o incrível The Art Ensemble of Chicago, ainda tão desconhecido no Brasil, formado por Lester Bowie (pistão/flugelhorn), Roscoe Mitchel (saxofones), Joseph Jarman (sax/flauta), Muhal Richards Abrams (piano), Malachi Favors (baixo) e Don Moye (percussão), numa gravação de 5/9/1972 mostrava em "Nonaah" (composição de Roscoe Mitchel) seu som pouco convencional, em termos de jazz clássico, mas que desde o início dos anos 70 já chegava a novas faixas de público. (AM)
Enviar novo comentário