Login do usuário

Aramis

Tempos de Itaipu

O maior edifício de Foz do Iguaçu - chamado de "Banestado", porque no térreo localiza-se a filial do Banco do Estado do Paraná, está com mais de 50% de seus apartamentos à venda há vários meses - com dificuldades de colocação. Vários projetos de novos edifícios que haviam sido feitos há dois anos, quando o chamado "boom" de Itaipu se encontrava no auge, foram esquecidos. "Em Foz do Iguaçu é um excelente negócio alugar imóveis, mas péssimo adquiri-los", raciocina um experiente empresário, com negócios diversificados em várias áreas. Acrescenta: - Alugar um apartamento ou caso no valor até Cr$ 20 mil não é difícil. Agora encontrar alguém disposto a imobilizar Cr$ 3 a Cr$ 8 milhões num bom imóvel é raro. ADEQUAÇÃO À REALIDADE - Com as obras de Itaipu atingindo o seu ponto máximo de utilização de mão-de-obra - calcula-se que mais de 30 mil pessoas estão trabalhando, direta ou indiretamente, na usina, onde há um movimento diário de aproximadamente Cr$ 50 milhões (é bom lembrar que no total, até 1980, o custo de Itaipu passará dos sete bilhões de dólares) - Foz do Iguaçu começa a apresentar neste segundo semestre de 1978 sintomas daquilo que os economistas classificam de "adequação à realidade". Há 4 anos, quando Itaipu foi iniciada, houve a natural explosão econômica e desenvolvimentista: a população da cidade começou a inchar, obras de infra-estrutura, indispensáveis, foram tocadas a toque-de-caixa, com injeção maciça de recursos federais e, evidentemente, a iniciativa privada se manifestou: o comércio triplicou, novos serviços surgiram, criando-se toda uma estrutura paralela, capaz de suportar a demanda que se passou a exigir. - Longe de qualquer crise econômica, mas apenas começando a adequar-se a uma realidade, Foz do Iguaçu é uma cidade ideal para estudos de economistas e sociólogos, sobre os efeitos que uma obra monumental, com investimento de milhões de dólares, pode trazer em termos de comunidade e desenvolvimento. Ainda é muito cedo para se ter dados concretos, números exatos, mas pessoas de nível superior, que procuram ver algo mais do que o quotidiano, já começam a estabelecer alguns parâmetros bastante interessantes. A primeira conseqüência do boom de Itaipu foi a elevação do custo de vida, fazendo hoje Foz do Iguaçu uma das regiões mais caras do País: por menos de Cr$4 500 não se toma nenhum refrigerante e quando este é servido em lata o custo passa do dobro. Para manter uma família - alimentação, colégio para 3 crianças, vestuário, etc. - um profissional liberal, preocupado em manter o mínimo padrão de vida, gasta de Cr$ 13 a Cr$ 20 mil, sem fazer maiores esbanjamentos. Isso sem computar o aluguel, que varia conforme o tipo e localização da residência. Como salários acima de Cr$ 25 mil não são tantos como, no início, parecia, é natural que imensa camada da população venha se localizando na periferia, em conjuntos populares e mesmo semifavelas, problema que apesar de todas as tentativas de ser evitado, através de planejamento feito há 5 anos, começa a surgir. Para fugir do alto custo de vida de Foz do Iguaçu, há muitas pessoas que procuram residir nos municípios vizinhos, "pois embora exista o problema da condução a economia em outras despesas compensa", raciocina um patrulheiro rodoviário, 33 anos, carioca e que lotado para servir em Foz, preferiu ficar morando em Matelândia, há 7 km. Como consegue caronas com facilidade, viu nesta solução a melhor fórmula para equilibrar o seu salário - embora seja solteiro e não tenha maiores compromissos. O STATUS DE ITAIPU - Nestes quatro primeiros anos, os milhares de técnicos, em vários níveis, que vieram de vários Estados para trabalhar nas obras de Itaipu, seja diretamente na Binacional, seja nas empreiteiras e subempreiteiras, ainda não se integraram à cidade. atraídos por ótimos salários e excelentes condições - casas próprias, assistência médica, social, educação para os filhos, clubes luxuosos etc., tudo gratuito, os técnicos e suas famílias praticamente não sentem necessidade de deixar o núcleo de Itaipu, onde dispõem, para suas horas de lazer, de um total esquema de entretenimento - superior mesmo ao que é oferecido à população de Foz do Iguaçu. Embora não exista qualquer clima de rivalidade ou hostilidade, o relacionamento entre os técnicos de Itaipu e os que residem há anos em Foz - seja na área oficial ou privada, é principalmente profissional. Inexiste qualquer vida social, integrando as famílias de Itaipu, aos menos das classes "a" e "b", com a população de Foz, o que se compreende: enquanto estas estão fixadas à terra, aqui permanecendo, as outras vêm apenas por um prazo determinado, não tendo, assim qualquer interesse de fixar raízes (e mesmo amizades) mais profundas. Para a população de Foz do Iguaçu falta ainda uma maior estrutura de lazer. "O que se faz aqui, nas horas de folga, é mesmo visitar os amigos, tomar um bom "scotch" e se divertir com um baralho", comenta um advogado da cidade, com rendimento na faixa dos Cr$ 34/50 mil mensais, que desfruta de uma boa posição social. Os círculos de jogos, em ambientes particulares, normalmente têm um sentido de entretenimento, mas não impede que, algumas vezes, os cacifes subam e verdadeiras fortunas se percam. Os dois cinemas de Foz - Iguaçu e Star, não chegam a ter uma programação atraente sendo, inclusive, o segundo destinado principalmente à faixa mais pobre, com programações de filmes de ação (bangue-bangue, kung-fu, comédias eróticas, etc.). Não há um programa de sustentação e estímulo a visitas de grupos teatrais - e mesmo artistas de músicas popular, ficando assim restritas as opções de entretenimento da população. Em compensação, o Country clube local é dos mais [freqüentados] e se faz muita vida social. Uma senhora, curitibana há 10 anos morando em Foz do Iguaçu, observa: - "Aqui, se fala mais em elegância do que no Rio ou São Paulo. Às vésperas dos bailes e festas, os salões de beleza devem faturar verdadeiras fortunas". OS NOVOS TEMPOS - A crise da agricultura em 78 - com a estiagem e depois chuvas e geadas, prejudicando as culturas da soja e trigo, refletiu-se, obviamente, em toda a economia da região, um dos fatores, aliás, apontados pelos corretores de imóveis da região, para explicar o baixo número de vendas. Ao lado do natural boom econômico que as obras de Itaipu provocam paralelamente há uma preocupação em alguns setores de adequar a economia aos tempos futuros. Afinal, a obra do século ficará pronta dentro de 10 anos, no máximo, e a região precisará crescer com seus próprios pés. Assim o fortalecimento da agricultura, a futura industrialização e uma agilização do turismo, com melhor infra-estrutura, são metas prioritárias. De momento, há o chamado grupo de Itaipu - forte e independente, com sua vida própria (se chegou até a fundar um Lions Clube-Itaipu), e de outro a cidade de Foz do Iguaçu, com seu grande crescimento, mas tendo uma série de desafios pela frente.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
4
06/10/1978

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br