Titulares, MPB-4, Bendegó & Mutantes
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 30 de janeiro de 1977
TITULARES DO RÍTMO.
Dentre os grupos vocais da MPB, o mais antigo ainda em atividades é o formado por seis cantores cegos que, juntos há 36 anos, vem desenvolvendo um excelente trabalho em favor da preservação do que existe de bom em nosso cancioneiro. Sem a sofisticação vocal dos extintos Cariocas (1946-1967), o tom descompromissado dos Demônios da Garoa ou ainda longe da visão realista e crítica do MPB-4, o Titulares do Ritmo tem gravado alguns elepês da maior importância, especialmente os que fizeram em homenagem ao grupo Bando da Lua (1929-1955), o primeiro dos grandes conjuntos vocais do Brasil. E acredito que agora os Titulares do Ritmo fizeram um elepê que acrescenta muito a sua carreira: "Brasílico" (Chantecler, 2- 10- 407- 177, novembro/76), produção de Salatiel Coelho, com arranjos de Francisco Nepomuceno de Oliveira, o Chico, líder do grupo e um repertório do melhor nível: "Gente Humilde" (Garoto - Vinícius de Moraes - Chico Buarque), "Guacyra" (Heckel Tavares - Joracy Camargo), "Peixe Vivo" (folclore mineiro, tendo por solistas Geraldo e Brito), "Minha Terra" (Waldemar Henrique), "Falua" (Alberto Ribeiro - João de Barro), "Odeon" (Ernesto Nazareth), "Quem Sabe" (Antonio Carlos Gomes-Bittencourt Sampaio), "Modinha" (Sérgio Bittencourt), "O Canto do Pagé" (Heitor Villa Lobos), "Chão de Estrelas" (Orestes Barbosa-Sílvio Caldas) e "Por Quem Sonha Ana Maria" (Juca Chaves). Essa seleção já dá idéia do sentido de brasílidade que os Titulares imprimiram a esse elepê, tão apropriadamente intitulado de "Brasílico". Na contracapa, um texto inteligente de Ronaldo Piovezan, do setor de imprensa da Chantecler, com informações precisas sobre os Titulares do Ritmo, baseado em consultas ao pesquisador J.L. Ferreti e a BR- 2 Baccarim.
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Não se pode dizer que o MPB-4 seja um grupo vocal oposto aos Titulares do Ritmo. Apenas que seus integrantes - Ruy, Achilles, Magro e Miltinho, todos com formação universitária, surgidos em outra época (1965), perante uma nova realidade, partiram para um novo esquema, unindo a razão, o pensamento político a interpretação musical. O resultado é que o grupo tem sofrido constante perseguição por parte da Censura, com espetáculos em teatro interditados (ainda na semana passada, foi proibido o espetáculo escrito por Carlos Novaes, que estrearia dia 1o de março, no Rio de Janeiro), musicas censuradas etc. Mas isso não diminuiu, ao contrário, a consciência do grupo, cada vez com um público maior, mais conciso e entendendo o seu trabalho. E a cada disco novo, o MPB-4 alcança uma nova estatura, não só tecnicamente mas também em termos de repertório. "Canto dos Homens" ( Philips, 6349311, dezembro/76), que chegou a entrar em várias listas dos melhores de 1976, á a exemplo dos discos anteriores do grupo, nos últimos três anos, um feito com garra, sangue e suor, parodiano Churchill. Nada é gratuito, tudo é medido, pesado, analisado. Cada uma das doze canções foi incluída criteriosamente e como disse Sérgio Cabral, não havia, mesmo, vaga para músicas que não se ajustassem ao espirito desta produção do grupo, com arranjos de Magro, sem dúvida hoje um dos mais competentes arranjadores do Brasil. Faixas: "Corrente" (Chico Buarque), "Negro, Negro" (Edu Lobo, Capiram), "Bola ou Búlica" (João Bosco-Aldir Blanc), "Chão, Pó, Poeira" (Gonzaga Júnior), "Não Demore" (Eduardo Gudin-Roberto Roberti-Paulo Cesar Pinheiro), "Moreno" (Milton Nascimento-Fernando Brant), " O Ronco da Cuíca" (João Borco/Aludir Blanc), "Foi-Se o Que Era Doce" (João Bosco-Aldir Blanc), "Sorriso da Mágoa" (Ivan Lins), "Canto dos Homens" (Miltinho-Paulo Cesar Pinheiro), "Vai Trabalhar Vagabundo" (Chico Buarque) e "Aparecida" (Ivan Lins-Mauricio Tapajós).
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O sentimento de brasílidade é importante nos grupos vocais e instrumentais. E quando os grupos atingem com grande força a faixa jovem, é muito (mais) importante que se volte a cantar as coisas de nossa terra. Bendegó, quinteto formado por cinco jovens nordestinos Vermelho (piano acústico, órgão), Zeca (violão, cavaquinho, percussão), Capenga (baixo, violão, bandolim), Hely (bateria) e Gereba (violão, viola de 10), apareceu há 3 anos, num modesto elepê lançado pela Phonogram, que não teve suficiente força para promover nacionalmente o grupo. Neste período o Bendegó viajou bastante, modificou um pouco o repertório e agora, em seu segundo lp ("Onde o Olhar Não Mira", Continental, 1-01-404-142, dezembro/76, mostra grande força e raízes brasileiras,com suas músicas próprias - em todas com a participação do letrista Patinhas. O nome Bendegó vem do meteorito que caiu no ano de 1888, na região de Canudos, no alto sertão da Bahia e esperamos que o grupo não seja meteórico em sua caminhada. Ao contrário, lentamente mas com segurança, crie uma estrutura para mostrar suas músicas de grande brasílidade, fortes e com um apelo honesto, como "As Muiê Santa de Canudos", "Você e Tu" e "O Côco Louco".
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Dos Mutantes originais, só restou mesmo Sérgio Dias, Rita Lee há quase 8 anos já faz carreira-solo, Arnaldo partiu para outros esquemas assim ficou com Sérgio Dias responsabilidade de manter banda-rock, com um público bastante entusiasta.
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