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Aramis

Um concerto internacional na quente tarde de domingo

Aquela sensação cultural, de grande metrópole no qual concertos de primeiro nível, acontecem à tarde, foi saboreada pelos espectadores que compareceram domingo no Auditório Bento Munhoz da Rocha Neto: o concerto da Filarmônica de Moscou - o segundo em sua turnê brasileira - foi um dos acontecimentos mais importantes do calendário artístico deste ano e mesmo pagando ingressos a Cr$ 2.800,00, ninguém reclamou: raras vezes uma orquestra de tamanho nível artístico-profissional passou por Curitiba. E mesmo com o custo elevado dos bilhetes para a realidade brasileira (normal, se considerarmos o ingresso de concertos semelhantes em Nova Iorque, Londres ou Paris), dificilmente a empresária Miriam Dauelsberg, dona da Dell'Art, terá lucro nesta temporada. "Já será um milagre se houver o empate nas despesas", diz Maria Rita Stumpf, 33 anos, coordenadora geral de produção. Surpreendida há um mês com o Plano Collor, perdendo os patrocínios e tendo seus recursos bloqueados, Miriam tentou cancelar a temporada. Não foi possível. A orquestra já estava viajando pelos Estados Unidos e a suspensão teria conseqüências imprevisíveis para o (bom) conceito que a Dell'Art conquistou no Exterior. Assim, Miriam bancou o custo da excursão - em Buenos Aires, Porto Alegre, Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro. Só de passagens, US$ 125 mil (US$ 25 no Brasil), hospedagem e estrutura para 135 pessoas - 124 dos quais músicos, e cachês que ultrapassam a US$ 100 mil. Em São Paulo, a Sociedade de Cultura Artística comprou as três apresentações da orquestra (a de hoje, no Municipal, é fechada, vendida ao Banco Cidade, comemorando seus 25 anos). Em Curitiba, coube a Fernando Bonin, 30 anos, ex-administrador de várias temporadas da Dell'Art, agora instalando a sua própria firma - Tear - Associação de Teatro e Arte (Rua Brigadeiro Franco, 3215, fone 222-8910), bancar a produção. - "Foram US$ 30 mil, verdinhas, o custo desta única apresentação" - dizia, domingo, Bonin, nervoso com o atraso de 40 minutos do início do espetáculo. É que o motorista de um dos caminhões da transportadora Julian, ao chegar a Curitiba, vindo pela BR-116, atrapalhou-se e acabou atrasando em quase uma hora sua chegada ao Guaíra. O maestro Dimitri Kitayenko, 49 anos, 14 no cargo, organizadíssimo - e que estava aqui desde às 14 horas, não escondia sua preocupação. Rigoroso, não permitindo ninguém assistir os ensaios, Kitayenko, cabelos prateados, aparência de galã, exigiu que as portas do auditório ficassem fechadas até todos os instrumentos serem colocados. Com isto, o hall estava superlotado - obrigando a uma improvisada sauna cultural-vespertina, da qual reclamou até o secretario René Dotti, da Cultura, que, depois, estava entre os que mais aplaudiram a orquestra. xxx Como às 21h haveria a última apresentação de "Dores de Amores", com Malú Mader e Taumaturgo Ferreira, a previsão era de que nem houvesse o número extra. Mas os aplausos após a belíssima Sinfonia nº 5, em Mi Menor, de Tchaikowsky, foram tão entusiásticos, que aconteceu um rápido bis. Na primeira parte, o programa iniciou com o "Uma Noite em Monte Calvo", de Mussorgsky (1839-181) [?] e teve no Concerto nº 3 em Dó Maior, de Sergei Prokofiev (1810-1963), a oportunidade de se ouvir ao lado dos virtuoses russos, também o talento do pianista Eduardo Monteiro, 22 anos, aplaudidíssimo. Mas seria a Sinfonia de Tchaikowsky, em seus quatro movimentos, que, com a orquestra completa, perfeita, daria toda a dimensão de um concerto como há muito não se (ou)via em Curitiba, e que confirma estar certo o material promocional que dizia ser hoje a Filarmônica de Moscou, fundada em 1953 pelo maestro Samosud, "a melhor entre as 60 orquestras em atividade na União Soviética e uma das mais renomadas do mundo". Com 50 elepês gravados (todos pelo selo estatal Melodya), apresentações em 35 países, embora nesta excursão tenha preferido um repertório clássico, tem sido responsável pelo lançamento de obras de novos compositores. Há 9 anos, no Festival de Música Contemporânea, em Moscou, por exemplo, foi responsável pelas primeiras audições de peças de Naguen Sin (Vietnã), Ausborn (Inglaterra), Severud (Noruega), entre outros.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
17/04/1990

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