Uma obra-prima do cinema americano
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 06 de fevereiro de 1987
Muitos aspectos fizeram de "O Mensageiro do Diabo"(Cine Lido, hoje, 10h30min, única exibição somente para convidados) um cult movie de características epeciais. De princípio, foi a única experiência do excelente ator Charles Laughton (Scarborough, Inglaterra, 1/7/1899 - L. Angeles, 15/12/1962) como diretor. Ator dos mais notáveis - pelo menos as gerações de cinéfilos dos anos 50/60, lembram-se de suas atuações em filmes como "Testemunha de Acusação" (1957), "Sob Dez Bandeiras" (1960), "Sapartacus" (1960) e, em seu último filme, "Testemunha de Acusação" (1962). Laughton só entusiasmou-se a tentar a direção devido ao encanto de um conto de Dave Grubb.
Uma história simples - a maldade demoníaca num pastor fanático (Robert Mitchum, em sua melhor atuação), que assassina mulheres e persegue um casal de crianças (inesquecíveis interpretações dos garotos Billy Chaplin e Sally Jane Bruce, que não fizeram carreira), transformou-se num filme de imagens góticas, no qual a fotografia de Stanley Cortez foi delirantemente bela, com influências do expressionismo alemão mas também lembrando primitivos pintores americanos. Seqüências como a da perseguição às crianças, a mulher morta no lago (Shirley Winters, em sua melhor forma) e Lilian Gish, como a guardiã de um asilo de crianças, permanecem na retina, 32 anos após a realização desta obra-prima do cinema. O roteiro de "The Night of the Hunter" foi um dos últimos trabalhos do escritor James Agee, falecido em 5 de maio de 1955, aos 44 anos. Jornalista, roteirista notável (outro de seus melhores trabalhos foi "The African Queen/Uma Aventura na África", para John Huston, em 1951), Agee escreveu um único romance, mas considerado também um clássico da moderna literatura americana: "A Death in Family" (até hoje sem tradução em português).
"O Mensageiro do Diabo" foi mais uma prova das injustiças da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Apesar de sua perfeição, não obteve uma única indicação ao Oscar, embora, naquele ano, (1955), os membros da instituição tivessem se voltado a produções simples e despojadas e dado três Oscars a "Marty" (filme, ator - Ernest Borgnine e direção - Delbert Mann), outro cult-movie cuja revisão se faz necessária.
LEGENDA FOTO - A imagem do pavor: Robert Mitchum e o garoto Billy Chaplim em "O Mensageiro do Diabo", uma obra-prima em exibição reservada.
Enviar novo comentário