Casablanca, o cult movie para encanto nostálgico
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 06 de julho de 1986
O que faz uma produção cinematográfica se transformar num cult movie?
Muitas podem serem as explicações. Entretanto, não há regras fixas que justifique a adoração que se cria em torno de certos filmes. Casablanca é o exemplo de um cult movie, 44 anos após ter sido produzido, esta realização do húngaro Michael Curtiz (1888-1962) permanece intacta como o exemplo maior do filme romântico, resistindo aos modernismos, aos modismos e a parafernália cinematográfica.
Reverenciado por inúmeros cineastas, citado explicitamente em tantos outros filmes (como "Sonhos de Um Sedutor", no qual Woody Allen interpretava um crítico de cinema apaixonado pela fita), "Casablanca" nada perdeu com o passar do tempo. As constantes reprises na televisão, a disposição também em tape, não diminuem o encanto de rever Casablanca em tela ampla, sem intervalos - como acontece agora, em cópia nova, a partir de amanhã no cine Itália.
Nostalgia de sentimentos - Mais do que nostalgia, "Casablanca" é um filme de sentimentos. Não foi sem razão que em 1943, recebeu o Oscar de melhor filme concorrendo com obras vigorosas como "Por Quem Os Sinos Dobram" (do romance de Ernest Hemingway, também estrelado por Ingrid Bergman), "O Céu Pode Esperar" (primeira versão), "A Comédia Humana", "Madame Curie", "A Canção de Bernardete" e "Consciências Mortas".
Paul Lukas, por "Watch on the Rhine", ficou com o Oscar de melhor ator - derrotando Humphrey Bogart que concorria por "Casablanca"; Gary Cooper ("Por Quem os Sinos Dobram"), Walter Pidgeon ("Madame Curie") e Mickey Rooney ("A comédia Humana"). Ingrid Bergman concorreu ao Oscar - mas indicada por "Por Quem..." - perdendo entretanto para Jennifer Jones ("A Canção de Bernardete"). Em compensação, Michael Curtiz levou o troféu de melhor diretor e o complicado roteiro original desenvolvido por Julius J. Epstein, Philip G. Epstein e Howard C. Koch também ganhou o Oscar. Pode-se chamar de "complicado" não pela história - linear e simples - mas pelo fato de que, diz o folclore em torno da realização de "Casablanca" (e existem pelo menos cinco livros a respeito) que os diálogos eram escritos e reescritos na véspera das filmagens e até a hora de rodar a sequência final, os roteiristas e Curtiz não tinham se decidido qual o final a ser dado: se Ilsa Luand Laszlo ficaria com seu grande amor, Rick Blatne, ou viajaria com o marido, Victor Laszlo.
Os Astros Mitos
No vigor de seus 43 anos Humphrey Bogart teve em "Casablanca" o grande papel de sua carreira. Ele vinha de filmes marcantes, nos quais compunha já personagens marginais ou durões - como em "Heróis Esquecidos" (The Roaring Twenties, 1939 - recentemente reprisado ne televisão) e "O Falcão Maltes" (1942), mas foi como o cínico Rick Blaine que marcaria o seu tipo cinematográfico. Ingrid Bergman, então com 27 anos e há apenas 3 anos nos Estados Unidos, teve também em "Casablanca" o seu grande papel (antes havia aparecido, sem maior destaque, em "intermezzo"). no mesmo ano de 1942, faria também "Por Quem Os Sinos Dobram" - na qual, pela interpretação da guerrilheira Maria, seria indicada ao Oscar. No elenco de suporte, agrupavam-se excelentes intérpretes: Paul Henreld como Victor Laszlo, o francês Claude Rains como o capitão Luís Renault, o alemão Conrad Veldt como o major Strasser e, na curta e marcante participação como Ugarte (apenas nas primeiras sequências), Peter Lorre. O vivo personagem que marcaria seria o pianista Sam - vivido pelo pianista e cantor negro Dooley Wilson, interpretando as clássicas "Knock on Wood", "That's What Nohah Done", "Muse's Call" (M. K. Jerome/ Jack School) e, especialmente, a imortal "As Times Goes By". Aliás, a inclusão de "As Times Goes By", composição de Herman Hupfeld, na trilha de "Casablanca", tem toda uma história especial - que qualquer dia a gente vai contar. Afinal, reprises deste clássico da nostalgia é que não faltam.
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