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Aramis

Uma premiére de cores na festa de Zimmermann

Zimmermann é um artista sofisticado. Seus quadros inovam a partir da forma - fugindo do academismo do quadrado, apresentam formas irregulares, diagonais, horizontais, lembrando até asas deltas - liberais como é a sua imaginação. Artista que trabalha exaustivamente com cores e imagens, sua produção tem hoje reconhecimento nacional, o que o faz espaçar suas individuais e selecionar as galerias em que expõe. Na próxima terça-feira, 18, inaugura nova mostra (GB Arte, Shopping Cassino Atlântico, Avenida Atlântica, 4240, sala 129, Rio de Janeiro). Uma exposição em Copacabana, destinada a ser notícia em espaços jornalísticos valorizados. Prestigiada por gente importante. Mas que não poderia deixar de ser vista, num preview, para seus (muitos) amigos curitibanos. Cosmopolita - longas vivências em Paris, Londres e Nova Iorque - especialmente a megalópole americana o fascina. Cinéfilo apaixonado, identificado ao ritmo nervoso das mais avançadas discotheques e galerias de arte da Big Apple, Zimmermann idealizou uma festa pré-vernissage que poderia, tranqüilamente, compor o cenário do próximo filme de Riddley Scott ou Mike Nichols. Em sua mansão, nas margens do lago Barigui - que já foi idealizada para o seu espírito de viver e curtir as boas coisas da vida - retirou os móveis do amplo salão principal para receber mais de 300 convidados na noite de terça-feira. Ao som da performática Laurie Anderson ("Home of the Braves"), Zimmermann foi pequeno para os abraços de belíssimas mulheres - loiras replicantes entre nomes colunáveis da cidade e muitos, muitos amigos. A competência do Buffet Ilha do Mehl garantiu algo que é raro nestes dias bicudos de recepções plásticas com bebida medíocre: a melhor champanhe Moet e Chandon, scoth 12 anos e fartos salgadinhos e doces. Nas paredes, os trabalhos que a partir da próxima semana estarão sendo vistos pelos cariocas e que mereceram entusiásticos elogios do crítico Olívio Tavares de Araújo. Que, com sua competência técnica, destaca a nova forma - e os novos materiais (papel dobrado) que Zimmermann trabalha. Fala Olívio: - "Assim é que as diagonais dentro do espaço, quando bem observadas, revelam provir de ângulos do papel quebrado, nos antigos desenhos de embrulhos (um ou dois quadros da presente fase explicitam claramente a transição, ao utilizar imagens de barbantes perfeitamente legíveis). Assim, também as formas dos recortes provém de uma série específica de trabalhos que Zimmermann realizou em 1978/79, na Inglaterra, e que no todo formavam um calendário muito diferente do resto de sua produção, eles combinavam diversas imagens aglutinadas ou superpostas, como linhas do mapa do metrô de Londres, com fragmentos do cotidiano - por exemplo, uma banana. Ao longo de todos esses anos, o artista quis recuperar de algum jeito aquela fase. Conseguiu-o agora: os formatos dos recortes derivam de secções do formato da banana. Mas é, obviamente, um avatar, e não uma citação literal. O recorte é geométrico, uma delimitação organizadora do contorno; cerebral, e não orgânico. Continua predominando e agindo em Zimmermann, como sempre, seu componente apolínio. A atual fase mostra-se uma soma, um ponto de confluência, que não nega nada do que aconteceu até agora, e sim integra facetas e momentos diferentes". Requintado, sofisticado e cosmopolita (Carlos Eduardo) Zimmermann, curitibano, 36 anos, 18 exposições em 15 anos (mais quase 50 participações em coletivas e salões), sete premiações a partir de 1969 (incluindo o principal prêmio em pintura no Salão Paranaense), é um artista que encontrou um caminho extremamente pessoal para uma obra destinada a um público classe A. Cerebral, trabalhando limpa (e profundamente) cores e propostas, tem sabido escalar espaços nacionais. Assim é que já fez onze individuais fora de Curitiba, uma delas (Galerie du Club, 44, Genebra) internacional. Como Bia Wouk - companheira e, de certa forma, parceira de ideais e de sonhos jovens - e, especialmente como Juarez Machado (com quem conviveu por algum tempo em Londres, juntos, dividindo um atelier-apartamento), Zimmermann não fica apenas nos limites regionais. Médico pela septuagenária Universidade Federal do Paraná, pendurou num quadro o diploma - missão cumprida para satisfação familiar - e mergulhou de corpo e alma no mundo de suas fantasias e cores. Da qual jamais pretende sair - a não ser para o cinema, fascinação maior em imagens que lhe dão uma empatia com os filmes de Riddley Scott ("Allien", "Blade Runner", e agora, "Perigo na Noite"), por exemplo. Aliás, sua pré-vernissage, pelo ambiente cinematográfico, belas mulheres presentes e o clima de descontração - lembrando também aquela festa descrita por Truman Capote em "Breakfast at Tiffany's" (que com a Audrey Hepburn no brilho de seus 31 anos fez imortal na transposição cinematográfica de Blake Edwards: "Bonequinha de Luxo") mereceria ter sido filmada. - "Mas é que Riddley Scott não pode vir a Curitiba na semana passada" - justificava Zimmermann pela ausência das câmaras. LEGENDA FOTO - Inovando nas formas, Zimmermann expõe a partir do dia 18 na galeria GB Arte, em Copacabana.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
15/10/1988

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