A valsa biográfica de Zelda Fitzgerald
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 11 de fevereiro de 1987
Até hoje a figura de Zelda era apenas vista como a dramática esposa louca do romancista Francis Scott Fitzgerald (Minnesota, 24/9/1896 - Hollyood, 21/12/1940), companheira de seus "anos dourados" na Paris dos anos 20 - tão glamurizada em seus romances e, mesmo nos filmes. Agora, graças à visão que o editor Luiz Schwarz, da Companhia das Letras, tem da literatura é possível conhecer, em português, o livro escrito pela própria Zelda ("Esta Valsa é Minha", tradução de Rosaura Eichenberg, 272 páginas, Cz$ 145,00).
Trata-se, naturalmente, de um livro nitidamente autobiográfico. Nele Zelda se encarna em Alabama Knight, uma ousada garota sulista que sai de sua vida provinciana para casar-se com um artista. Com um estilo muito pessoal encharcado de emoção e entrega, mais do que um romance, é um verdadeiro relato da época aonde Zelda Fitzgerald reordena suas idéias, através da personagem Alabama: fala da infância à sombra de um pai austero, dos namoros e da adolescência no Sul dos EUA, no período entre guerras; fala da vida com um artista na era do jazz, de viagens à Europa, das festas e do álcool. De certa forma todo o livro parece a versão pessoal de Zelda e tudo que Scott Fitzgerald contara em "Suave é a Noite", onde ela própria aparece com o nome de Nicole. "Esta Valsa é Minha" é, principalmente, isso: a tentativa, apesar das mutilações, de continuar a vida. Zelda não conseguiu salvar-se. A loucura voltará em ondas, com pequenos intervalos até o incêndio no hospital psiquiátrico que a matou acidentalmente em 1947.
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Mais uma coleção de minilivros de bolso, macetosos, abordando temas da atualidade. Agora é a Global que lança os Cadernos de Educação Política com o subtítulo de "O que todo cidadão precisa saber sobre...". Os três primeiros volumes abordam a violência das massas no Brasil, a saúde e Estado brasileiro e Habitação.
A Mercado Aberto, de Porto Alegre, também entra na mesma fórmula com a coleção "Tempo de Pensar". O volume "Política e Meio Ambiente", reúne textos de várias pessoas que se preocupam com temas ecológicos, como José Lutzenberger e Flávio Lewgoy (organizador do volume).
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A Marco Zero, agora com nova direção, diversificando seus lançamentos. Assim vai desde best-sellers dos mais comerciais como os volumes selecionados por Harold Robbins (como "Um Pedaço do Céu", de Adrian Lloyd) até obras importantes como "No Palácio do Rei Minos", de Nikos Kazantzaki (320 páginas, Cz$ 145,00), que apresenta uma versão, em linguagem moderna, da lenda de Teseu, o jovem príncipe ateniense que vai a Creta enfrentar o Minotauro, num momento em que Atenas é esmagada pelo poder cretense e pelos tributos que deve pagar anualmente. Kazanitzaki (1885-1957) é um dos mais conhecidos romancistas gregos, autor de "Zorba, o Grego" (1942) e "O Cristo Crucificado"(1954), que se transformaram em clássicos do cinema, dirigidos por Michael Cocaymis e Jules Dassim ("Aquele Que Deve Morrer"), respectivamente.
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A Marco Zero edita também "Terra", um livro de ficção-científica de Stefano Benni, cuja primeira edição esgotou-se em poucas semanas. A ação se passa em 2.039 e a situação da Terra parece desesperadora: cinco guerras nucleares devastam os recursos naturais do planeta. Neste universo apocaliptico se passa a ação deste romance escrito com bom humor. 280 páginas, Cz$ 129,00.
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Reciclado e dinamizado, o Clube do Livro vem fazendo lançamentos importantes, em grandes tiragens. Assim mandou para as bancas, livrarias e seus assinantes uma nova edição de "O Jogador", de Dostoiévski (1821-1881), em tradução de Tadeu Louzado, paralelamente a "O Corpo Tem Suas Razões", de Thérese Bertherat, considerada como a inventora da antiginástica. Uma mulher idosa, que mora no interior da França, Thérese estabeleceu o princípio de que o encurtamento nos músculos das costas é a principal causa dos problemas físicos das pessoas. E baseada nisso, desenvolveu um método de trabalhar o corpo usando, basicamente sensibilidade e emoção.
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Um dos mais interessantes lançamentos dos últimos meses: "Escolha a vida - Um diálogo sobre o futuro", de Arnald Toynbee e Daisaku Ikeda (Record, 346 páginas, Cz$ 149,00). O renomado historiador Toynbee (Londres, 14/4/1889 - York, 22/10/1975) e Daisaku Ikeda (Tóquio, 1928), terceiro presidente da organização budista leiga Soka Gakkai, fundador de várias escolas, uma universidade e do Museu de Arte, neste volume trocam idéias sobre a vida e o futuro. Exprimem opiniões a respeito da liberação sexual, o papel do intelectual e das massas, a volta do campo, a liberdade, a pena de morte, os progressos da medicina, o movimento trabalhista, as relações entre a mente e o corpo, o racismo, e a esperança de uma humanidade unificada política e espiritualmente.
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Mais um livro do psiquiatra José Angelo Gaiarsa, especialista em psiquiatria, inquieto e cuirioso, autor de vários títulos: "Poder e Prazer - O Livro da Família, do Amor e do Sexo" (agora, 224 páginas, Cz$ 110,00). Neste volume Gaiarsa faz uma profunda e bem fundamentada crítica ao sistema e conseqüentemente à família, mostrando que nossa ferocidade animal pode chegar a extinguir a espécie, pois, afinal, "os meios existem e os botões estão instalados".
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Nome dos mais respeitados nos meios econômicos, Hélio Jaguaribe lançou no ano passado um novo livro de ensaios: "Novo Cenário Internacional" (Editora Guanabara). Constitui-se de um conjunto de estudos que se voltam para a década atual, abordando quatro temas principais. Os dois primeiros são os aspectos fundamentais do novo cenário internacional, mostrando que o mundo se caracterizará cada vez mais pela crescente instabilidade do sistema internacional, que afeta as esferas econômicas político-militar e cultural. O tema que mais permanentemente tem ocupado Hélio é o desenvolvido na terceira parte: são cinco estudos em que especial atenção é dada à Argentina, antes, durante e depois da guerra das Malvinas. Na última parte, dirige sua análise para alguns problemas estratégicos, como as relações entre os países latino-americanos e os países centrais e como a deteriorada relação entre Leste e Oeste.
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A Ibrasa fazendo importantes reedições. Um exemplo é "O Chapéu mexicano" (Litle Mexican), conto que dá título a um volume de seis histórias, pertencentes à primeira fase literária de Aldous Huxley. Aqui, como em outros volumes de contos e novelas curtas do autor de "Admirável Mundo Novo", a narrativa é simples, como o domínio do enredo e a preocupação do relato minucioso. Os personagens são gente comum, da classe média ou da aristocracia e a ação freqüentemente se passa na Itália.
LEGENDA FOTO - Zelda, a mulher que influenciou decisivamente Fitzgerald.
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