Vitrines musicais da experiência mexicana
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 20 de novembro de 1984
Foi em 1977, no auditório do Colégio Estadual do Paraná. O Diretório Central dos Estudantes da Universidade Católica do Paraná, então presidido pelo Silvano Rocha Loures (hoje atuante político e advogado) realizou um festival universitário de MPB, que trazia muita gente nova. Entre as músicas que chegaram ao final, duas surpresas: "João e Maria", uma proposta vanguardista de Jorge Eduardo (hoje jornalista da sucursal d' O Estado de São Paulo") e, numa emocionante mostra de lirismo, "Concepção", na qual uma garotinha um tanto tímida, mas de extraordinária musicalidade, Rosy Grecca, mostrava força incrível.
O primeiro prêmio daquele Festival (que, como tantos outros, não teve continuidade) foi praticamente o lançamento de Rosy Grecca, iratiense que havia chegado em Curitiba com 14 anos e três anos depois já fazia dois trabalhos com Antônio Carlos Kraide: "Hoje é Dia de Rock" e "Cadilak de Lata". Até viajar para o México, há 3 anos, acompanhando o seu marido, o disigner Luís Gonçalves, Rosy não parou de trabalhar artisticamente: fez shows ("Caso Brasileiro", "Correnteza", "Veias Abertas"), participou de peças infantis - como atriz e compositora - montadas por sua amiga Fátima Ortiz e, sempre conscientemente, integrou-se a vários movimentos pela valorização artística do pessoal da terra.
No início do ano, Rosy e Luís voltaram da Cidade do México - com a família aumentada com a filha Soluá. Nos quase 3 anos que ficou no México, enquanto o marido assistia aulas na Universidade do México, Rosy também frequentou cursos musicais, fez apresentações informais e, principalmente, compôs muito. Canções fortes e vigorosas.
Agora Rosy vai mostrar suas novas músicas num espetáculo que se afigura como um grande acontecimento para este final de ano: "Vitrines" (sexta-feira a domingo, Teatro do Paiol) tem direção de Fátima Ortiz e direção musical de Helinho Santana, textos de Rosy, Cóby, Fátima e Enéas Lour. Cinco bons músicos participam - Helinho Santana (bateria/percursão), Gerson Kornin (baixo), Fernando Pereira (flauta), Ricardo Saporski (violão, guitarra/viola) e Helinho Brandão (sax alto, soprano) e há participações especiais: os bonecos criados por Perrê e as fotografias de Luiz Gonçalves. Beto Bruel criou a iluminação. Muito especialmente importante a participação dos convidados: Perré, Sandra Zugman, Mauro Araújo, Nica Bonfim, Nice Henz e Cóbi.
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Em sua linguagem simples - mas sempre poética, com imagens tranquilas, Rosy define "Vitrais" como "um lugar aonde o rio desemboca". É o (re)encontro da águas. É um parar para cantar e compartilhar as coisas vividas muito especial da sua vida. "Vitrais são fragmentos, são imagens deste tempo, uma retrospectiva". Tempos de importância para Rosy.
- "É como minha vida pessoal está intimamente ligada com a minha música, é um tempo de máxima importância também por mim enquanto artista. Dois anos de México. Bem longe do ninho. Foi lá que compus a minha música mais linda em parceria com Luiz: Sóluá, nossa filha. Com Sóluá aprendi que o mundo não é só meu. Ela conseguiu despertar lá de dentro de mim um mundo adormecido. Fez remexer lá por dentro. Balançar meu intelecto e meu coração. Construiu um espelho para mim, destes ainda não inventados mas que reflete a gente por dentro".
Estes shows de reencontros, de emoções e de sensibilidade, marca a volta artística de Rosy Greca. Uma artista de sensibilidade e amor que merece ser aplaudida no próximo fim de semana. Ela mesmo dis, olhar cheio de esperança:
- "A satisfação de continuar remando, mesmo contra a corrente num tempo de grande desarmonia. Unindo a energia de todos, acreditando na importância e no prazer da trajetória".
LEGENDA FOTO - Rosy: reencontro musical
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