Adeus, Arnaldo
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 14 de fevereiro de 1975
O assassinato frio, brutal, incompreensível à luz da razão, do industrial Arnaldo Fontana parece vir, de uma forma trágica, confirmar o velho adágio de que os bons morrem cedo. Ou, como disse Ernest Hemingway (1898-1961) " aos que trazem muita coragem neste mundo, o mundo quebra a cada um deles e eles ficam mais fortes nos lugares quebrados. Mas aos que não se deixam quebrar, o mundo mata-os. Mata os muitos bons, os muitos meigos, os muitos bravos - imparcialmente. Se não pertenceis a nenhuma desta categoria, morrereis da mesma maneira, mas não haverá pressa nenhuma em matar-vos".
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Mais do que a tristeza e o vazio que a morte de Arnaldo Fontana trouxe aos seus amigos - após uma semana de preocupações, desde o seu desaparecimento, na tarde de quinta-feira, dia 6, e a brutalidade do crime. Jovem, inteligente, amigo legal e integrando aquele grupo de pessoas que parecem ter sido privilegiadas pela tranqüilidade que cercava sua vida, a morte de Arnaldo faz refletir na efemeridade de nossos dias, na estupidez da nossa luta diária. Porque Arnaldo, um moço sincero, sem inimigos declarados, foi o escolhido para enfrentar esta "aventura horrível e suja", que é a morte, nas palavras de Albert Camus? Arnaldo, o bom e terno, que a morte não podendo quebrar, levou com terrível pressa, no ano 29 de sua vida. Uma vida de trabalho, de estudo, de amizades leais. Perguntas doídas que não encontram respostas.
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Há pouco mais de duas semanas jantando conosco, Arnaldo falava com entusiasmo dos musicais - uma de suas paixões no cinema. E dizia que Hollywood através da tela do cine Opera criou um mundo mágico para as crianças dos anos 50. Ele que, todas as quartas-feiras, com sua mãe e irmãos, vinha assistir aos musicais da MGM nas coloridas vesperais, numa época em que a cidade não tinha assassinos brutais como os que, há uma semana o tiraram deste nosso pequeno mundo. Muito se poderia falar de Arnaldo. Do industrial bem sucedido, do filho amoroso, do homem responsável, do intelectual brilhante, do critico cinematográfico inteligente e satírico, que apesar de uma colaboração bissexta, marcos seus (poucos, infelizmente) comentários em O ESTADO, fazendo aumentar mais a admiração que por ele seus amigos - que são muitos - tinham. A tristeza e a certeza de que as palavras pouco adiantam agora, só nos fazem sentir ainda mais a sua partida desta forma tão inesperada.
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