A boa ficção e as forças mentais
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 14 de fevereiro de 1975
Irwin Shaw, romancista norte-americano que ficou famoso com "Os Jovens Leões" (The Young Lions, 1948), filmado em 1957 por Edward Dmytryck, tem um novo livro na praça: "O Erro de Lucy Crown". Este é o quarto romance de Shaw que a Record lança no Brasil, pois anteriormente aqui editou "O Pobre Homem Rico", "Duas Semanas em Roma" e "Morte em Pizâncio".
"O Erro de Lucy Crown" trata de um triângulo amoroso, não do clássico que se processa entre marido, mulher e amante, mas de outro mais comum na vida real do que na ficção e que se arma em torno do pai, da mãe e do filho. Sendo doente, quase inválido, o filho é cercado de cuidados expressivos por parte dos pais e corre o risco de tornar-se mimado e incapaz, como em geral acontece nesses casos. Entretanto, sob a direção hábil de um professor que cuida dele durante as férias passadas às margens de um lago, o jovem começa a desenvolver um robusto sentimento de independência. Mas o seu mundo se desmorona quando descobre que há um caso de amor entre sua mãe e o professor. O choque inevitável o afasta simultaneamente do pai. O jovem chega assim penosamente à idade adulta, sempre emocionalmente inconsistente e como um neurótico desprendido de quaisquer laços afetivos. Durante a guerra, o pai tenta uma reaproximação de que resulta um fragoroso insucesso. Só muitos anos depois, num encontro casual com a mãe, abre-se uma esperança de reconciliação e de promessa de felicidade para o pobre homem sofredor.
COMO GANHAR NOVAS FORÇAS COM A GINÁSTICA MENTAL - É indiscutível a participação da mente humana na vida existente na Terra. Uns são felizes. Outros sofrem. De um modo geral, todos concordam em que poderia ser melhor. Mas, se o segredo da felicidade está na mente humana, por que não se realizam todas as aspirações do homem ? "Como Ganhar Novas Forças Com a Ginástica Mental", escrito por Sidney Petrie e Robert B. Stone, pretende ensinar técnicas e exercícios mentais capazes de fazê-lo descobrir que sua vida afetiva, saúde, reputação e até conta bancária dependem quase que exclusivamente de você. E é sempre válido tentar ser feliz. Tradução de Heloisa Senise Paes Leme, 252 páginas, Cr$ 28,00.
JOGADA HÚNGARA - "Quando se tem um amigo húngaro, não se tem necessidade de um inimigo", diz um ditado popular da Hungria. Foi de fato o que ficou manifesto no "Caso Routenfield", também conhecido como "Jogada Húngara", e que serviu de tema a este romance de espionagem que pode ser comparado, sem exagero, às obras-primas do gênero. Trata-se no livro - edição no Brasil da Record, tradução de Aurea Weisenberg, 285 páginas - de uma caçada para encontrar a pista de um coronel da Polícia Secreta da Hungria que se supunha morto em 1956 durante a revolução húngara mas foi reaparecer quinze anos depois num centro de esquiagem da Califórnia. O personagem central em toda a trama é um assassino profissional de nome Hagopian, que fora contratado, ninguém sabia por quem, para assassinar um milionário californiano e que se encaminha para o seu objetivo com uma série de espantosos assassinatos em que usa uma grande variedade de armas, que denotam menos o seu interesse material que uma obsessão pela violência e pela morte. Com os seus detalhes fascinantes e as suas explosões de violência, "Jogada Húngara" é, sem dúvida, um romance de espionagem verdadeiramente original.
O SÓSIA - Hitler guarda florestal! É o que propõe René Fallet, com sucesso, ao longo de "O Sósia" (Editora Nova Fronteira, tradução de Regina Machado, 216 páginas), um romance fértil em divertimentos e em descobertas poéticas. Então Hitler não morreu: foi um dos seus sósias, um "ersatz" perfeito que se suicidou em seu lugar, em 1945, na famosa chancelaria. E o "Fuhrer", tomando as vestimentas e a personalidade desse "ersatz", tornou-se guarda-florestal de uma pequena vila alemã. E ei-lo, hoje, numa casa de repouso em Nuremberg.
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