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Aramis

Afinal, o espetáculo sem "poncho e conga"

Quando "Ah! Mérica" estreou em São Paulo, há alguns meses, muitos críticos temiam pelos resultados. Afinal, espetáculos de música e poesia latino-americana vêm acontecendo com muita regularidade mas sem o nível artístico desejado, ao ponto de ter sido criada a adjetivação de "poncho e conga" para esse modismo cultural. Felizmente, ao julgar por aquilo que respeitáveis críticos observaram, Raul Cortez, vindo do sucesso de "Amadeus" (onde interpretou Antônio Salieri), evitou cair no panfletarismo demagógico que faz, por exemplo, um grupo como o Tarancon apresentar espetáculos absolutamente insuportáveis. Ao contrário, "Ah! Mérica" foi desenvolvido com seriedade e inteligência, através da reunião de textos latino-americanos de vários autores, uma direção segura de Odlavas Petti e a participação de dois músicos - Antônio Carlos Sarno e Cesar Assolant. Sabato Magaldi, o mais rigoroso crítico paulista (agora em Paris, como professor da Sorbonne), escrevendo no "Jornal da Tarde", avalizou em relação a este "Ah! Mérica", que os curitibanos poderão aplaudir a partir de amanhã: "A montagem, quase imperceptivelmente, constrói-se como prodígio de criatividade. Raul pertence à geração que apurou a maneira de dizer, valorizando-a pela elegância e pela sobriedade dos gestos. Até aí, nada de novo para ele. O que "Ah! Mérica" acrescenta é a leveza com a qual o autor incorpora a coreografia de Paula Martins, calcada na dança espanhola, e a afinação do canto, proporcionado pelo preparo vocal de Nancy Miranda. Está em cena um artista completo, para quem não escapa qualquer recurso expressivo. O melhor que se pode dizer da encenação de Odlavas Petti é que ele nunca procura impor-se. A presença dele insinua-se pela sutileza e pelo gosto, palpáveis no [tranqüilo] domínio de todos os elementos. Cada participação não extravasa a justa medida. Haveria o risco de os músicos. Antônio Carlos Sarno e César Assolant se entregarem ao desejo do solo, em virtude do mérito próprio, desequilibrando a [seqüência] normal do texto? A direção musical de Murilo Alvarenga integra-se perfeitamente no trabalho coordenado de Odlavas, impedindo quaisquer desvios. Se a certa altura se observa um pequeno cansaço, a culpa cabe ao texto, não estruturado, como era natural, segundo um desenvolvimento dramático (...) Quem se interessa pela trajetória de um de nossos melhores atores não pode perder essa demonstração de invulgar talento, sob pretexto de que se fugiu ao território do teatro convencional. A contemplação de um ótimo intérprete, na plenitude de suas virtudes, equipara-se ao aplauso a um requintado teatro". LEGENDA : Raul Cortez: elogiado trabalho em "Ah! Mérica", a partir de amanhã, no Guaíra.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
01/10/1985

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