Ao rodar da manivela
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 06 de agosto de 1989
Confirmado: a mais importante mostra do cinema documental, não só do Brasil mas também abrangendo o Exterior - Jornada Internacional de Cinema da Bahia, que desde 1972 vinha sendo promovida, com imensos sacrifícios, pelo cineasta Guido Araújo, em Salvador - sempre de 8 a 14 de setembro, foi cancelada. Por total falta de apoio oficial ou privado, Guido não viu condições de realizar a 18ª edição - que seria paralela ao concurso de filme e vídeo latino-americano e da África de língua portuguesa. O tema deste ano seria: "Por um Mundo mais Humano", e Guido já havia recebido 25 filmes para disputar a Jornada.
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Realizador de excelentes documentários, assistente de Nelson Pereira dos Santos em "Rio, 40 Graus" (1954), respeitadíssimo em termos nacionais, Guido, 53 anos, com toda razão, mostra-se magoado pela falta de apoio para que a Jornada tivesse continuidade. Declarou a respeito: "Que o Brasil está em crise aguda, não é novidade para ninguém. Mas isso não é argumento plausível para não apoiar um evento sério e tradicional, reconhecidamente barato, que nunca usou mordomias e com um inegável retorno de caráter sócio-cultural e até mesmo turístico".
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Wilmar Klein, coordenador geral do I Festival Texaco de Cinema - Cidade de Curitiba (25 a 30 de setembro), conseguiu, até agora, quatro filmes longa-metragens: o documentário "Ori", de Raquel Gerber (sobre a presença negra no Brasil e as origens afro) e "Lua Cheia", de Alain Fresnot - que foram recusadas pela comissão de seleção do XVII Festival do Cinema Brasileiro de Gramado; "Rio-Leningrado", de Carlos Ribeiro Prestes (exibido hors concours no FestRio-88) e "1º de Abril, Brasil", de Maria Letícia, que em Gramado teve críticas desfavoráveis mas valeu premiações de montagem (Marília Alvim) e atriz (Rosamaria Murtinho). Contatos vêm sendo feitos para trazer mais longas ao Festival que oferece como prêmios principais passagens aéreas ao produtor do melhor filme e ao melhor diretor.
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Se entre longas está difícil conseguir filmes inéditos - afinal, a produção do cinema brasileiro caiu muito e os filmes que estão em finalização já estão sendo disputados pelos organizadores dos festivais de Natal e Brasília - na área de curtas e médias-metragens não faltarão candidatos. Mauro Faccioni, paranaense radicado em Florianópolis, por exemplo, até enviou a cópia de seu média "As Bruxas", que esteve (sem obter premiações) nos festivais de Brasília e Gramado no ano passado.
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Na próxima semana, no Rio de Janeiro, acontece o Rio-Cine Festival, organizado por Walkíria e Wilma Barbosa, com patrocínio de uma fundação criada especialmente para o evento. Justamente para evitar ter que estar caçando longas inéditos, Walkíria foi habilidosa: concentra os esforços em curtas inéditos e faz a premiação com base em toda a produção nacional dos últimos 12 meses - sejam filmes inéditos ou não, através de uma ampla votação. Paralelamente, organiza várias mostras - uma das quais será sobre o cinema ecológico e que Wilmar Klein pensa em trazer a Curitiba.
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Há dois anos, Hugo Carvana adquiriu a contracapa do programa do XV Festival de Gramado para anunciar o filme que começaria a rodar - "Amor Vagabundo", com música de Chico Buarque e que pretendia disputasse o Festival em 1988. Dentro das dificuldades que enfrentam os que fazem cinema no Brasil, Carvana - bem sucedido por seus longas "Vai Trabalhar, Vagabundo" e "Bar Esperança", foi obrigado a suspender as filmagens deste filme por falta de recursos. Só agora, desde o dia 27 de julho, pode retomar a produção com seqüências nas ruas da Lapa. O tempo decorrido obrigou a substituir alguns intérpretes. Por exemplo, Marieta Severo no papel de Beth Faria, comprometida com a telenovela "Tieta". No elenco estão também Nelson Xavier, Denise Bandeira, Marcos Palmeira, Lutero Luiz, Andréa Beltrão, Wilson Grey e Cláudio Mamberti. Chico até já aprontou a música-tema - "Trapaças", que vai gravar em seu próximo lp.
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HFO.3; EF3; FH. Nem tudo é pessimismo no cinema brasileiro: Marco Antônio Cury, em São Paulo, filma "Barrela", baseado em dramático texto de Plínio Marcos. Neville D'Almeida e Alberto Graça se preparam para iniciar "Matou a Família e Foi ao Cinema" (refilmagem do trabalho original de Júlio Bressane) e "Casa de Açúcar", respectivamente.
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Em fase de montagem estão "O Escorpião Escarlate", de Ivan Cardoso; "Corpo de Delito", de Nuno César Abreu; "Sermões", de Júlio Bressane; "Stelinha", de Miguel Farias; "Sonhei com Você", de Nei Santana; "Manoushe", de Luís Carlos Becazo e "Minas-Texas", de Luís Carlos Prates.
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