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Aramis

Artigo em 09.12.1981

Mesmo sem aproximar-se do denso e profundo "Nasce um Monstro" - possivelmente a mais cruel visão já feita sobre a Talidomida, que no início dos anos 670 provocou o nascimento de milhares de crianças deformadas, este "scanners" que durante duas semanas assustou (ou tentou assustar) os espectadores que foram ao cine Vitória (onde ainda hoje, em 4 sessões, está em exibição) é um filme com elementos de interesse. Em "It's Alive" (Nasce um Monstro), toda a ação se fixa no que um estranho ser, a partir do momento em que nasce, provoca - deixando um rastro de sangue, com mortos e destruição de tudo que toca. No final, um emotivo (re)encontro com os pais - mas que é interrompido pela ação policial, que atira sobre o estranho ser, cuja face não é mostrada em nenhum momento. Na continuação de "It's Alive" =- aqui intitulada "A Volta do Monstro" (lançado no Center I, e posteriormente reprisado no cine Glória, em programa duplo), o diretor Larry Cohen, embora ainda tratando com seriedade do assunto, não pode evitar concessões: os "pequenos monstros" aumentam de um para três e são mostrados em seus aspectos aterradores: garras, presas e uma conformação disforme. Em "Scanners", um filme que obteve esplêndida bilheteria nos EUA entre a980/81, os seres dotados de um estranho poder paranormal também são conseqüência de medicamentos fatais. Mas esta informação só é dada na seqüência final, pois durante mais de 70 minutos, a preocupação do diretor David Cronenberg foi de manter o público em suspense, face ao poder dos "Scanners" em atuarem sobre as outras pessoas - a ponto de provocar explosões de cabeças, como na sangrenta seqüência final. Aliás, em filmes como este - e também no "Dia dos Namorados Sangrento" (My Bloody Valentine), ainda hoje em projeção no cine Lido, nota-se uma escalada das cenas de violência. Ultrapassadas as ultimas barreiras para atrair o público, os novos cineastas que se dedicam ao gênero - como Cronenberg em "Scanners" e George Mihalka em "My Bloody Valentine", não ficam apenas na sugestão: as cenas de violência são verdadeiras explosões de carnificina, que fazem a seqüência final de "Meu Ódio Será sua Herança" (The Wild Buch, 69, de San Peckinpah), que tanta náusea provocava há 12 anos, parecer hoje uma simples seqüência capaz de merecer a censura livre. Psicólogos e estudiosos do comportamento da massa tem frente a este novo tipo de filmes de terror/horror, amplo material para análise e debate - especialmente porque, pelo visto, a tendência é que o sangue sobre a tela continue a jorrar cada vez com maior impacto, pelos muitos filmes programados para os próximos meses. xxx Quem não aprecia violência, sangue, terror, tem, em compensação, a oportunidade de assistir um dos melhores filmes do ano, desde segunda-feira em projeção no Cine Plaza: "Tributo". Tendo válido a Jack Lemmon uma (merecida) indicação ao Oscar de melhor ator - que acabou sendo conquistado por Roberto de Niro (por seu trabalho em "Um Touro Indomável/The Ranging Bull", de Martin Scorcese), "Tribute" é uma sensível transposição à tela da peça de Bernard Slade que aborda uma temática humana e com grande emparia: as relações pai-filho, deterioradas por um longo tempo - afastamento e que necessitam serem recuperadas frente [à] próxima morte do pai. No papel de Scottie Templeton, um ativo e simpático agente de imprensa da Broadwary, Lemmon constrói um personagem inesquecível, que, por si só, já justifica este filme absolutamente indispensável de ser visto. xxx O festival do cinema polonês, realizado durante 2 semanas na Sala Arnaldo Fontana foi, infelizmente, visto por pouca gente. Ao contrário do que acontecia no passado, quando o Consulado Geral da Polônia se preocupava em que os interessantes longa-metragens e marcantes desenhos fossem projetados em várias sessões, as produções que vieram desta vez foram confinadas em horários incômodos, prejudicando a um público que se interessaria em conhecer a nova safra de realizadores da Polônia, mas que não teve oportunidade de comparecer ao asfixiante espaço da sala Arnaldo Fontana. Em compensação, a partir de amanhã, no cine Groff, a (rara) oportunidade de se conhecer um filme de um dos mais elogiados cineastas poloneses: "As Heroínas do Mal", de Wallerian Borowzcki, que desde o seu lançamento em dezembro de 1979 vem merecendo especial atenção. Filme erótico, contando 3 estórias, e, entretanto uma obra de arte, pois como acentuou o crítico José Carlos Avellar, a câmera de Borowczyk procura ver cada detalhe com uma certa frieza - ou inocência, "nada semelhante à preocupação muito freqüente de levar o espectador a participar da ação filmada, a se imaginar ali, pertinho, como se estivesse vendo com os próprios olhos".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
6
09/12/1981

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