A Assembléia gaúcha dá exemplo cultural
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 19 de abril de 1985
Quando chegou ao Festival de Cinema de Gramado, há 3 semanas, para a exibição hors concours do já premiado " Cabra marcado para morrer ", o diretor Eduardo Coutinho foi procurado por três assessores da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul , com um convite especial : participar de um debate sobre o filme, após sua projeção no auditório do Legislativo gaúcho. Mesmo com inúmeros compromissos, incluindo a viagem aos Estados Unidos, onde " Cabra marcado ..." está sendo exibido, esta semana, nas universidades de Denver, San Francisco, Berkley e Stanford, Coutinho animou-se a participar da sessão. " Afinal, é sempre bom que nossos politicos assistam a filmes como esse ", comentou com a jornalista Angela Baldin, do Movimento Socialista de Cultura e assessora da Assembléia na área culrutal.
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Coutinho não é o primeiro cineasta a merecer convite do Legislativo gaúcho para participar de debates após a projeção de um filme.
No ano passado, após o encerramento do Festival de Cinema de Gramado " Jango ", de Silvio Tendler, teve uma pré-estréia na Assembléia em Porto Alegre. E inúmeros outros eventos culturais ali tem lugar , numa programação que, felizmente, nem a substituição das mesas diretoras, tem alterado. Muito pelo contrário, o deputado Valdomiro Lima, novo presidente da Assembléia, está preocupado em dinamizar ainda mais a participação do Legislativo nesta área e para tanto reforçou sua assessoria com o convite de uma das mais respeitadas pesquisadoras da cultura gaúcha, a professora Hilda Fagaça, e nomeou para direção do Departamento de Cultura da AL , o compositor e intérprete Ayrton Pimentel, folclorista com três elepês gravados.
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A preocupação do Legislativo no Rio Grande do Sul por atividades culturais deveria servir de exemplo às Assembléias de outros Estados, nos quais raramente acontece qualquer iniciativa na área. No Paraná, só mesmo os festejos comemorativos aos 120 anos de nossa Assembléia, transcorridos no ano passado, animaram a realização de algumas promoções - como concursos de moografias e a reedição do " Cem anos de Vida parlamentar " da professora Maria Nocholas. Entretanto, conforme o colunista Claudio Manoel da Costa acaba de denunciar, passado mais de um ano da realização do concurso de monografias, os textos premiados continuam a espera de publicação - para frustação de seus autores.
Alguns deputados têm manifestado preocupações com a politica cultural do Estado - como Ivam Gubert e Osvaldo Alencar Furtado, autores de constantes pedidos de informações na área . Outros, por sua formação, poderiam sensibilizar-se para projetos especificos e, mesmo considerando a existência já de várias, onerosas ( e, na maioria dos casos ), ociosas instituições culturais,o Legislativo deveria ter também sua própria programação cultural, capaz de promover ao menos exibições de filmes politicos,palestas e debates.
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Muito raramente acontece algo na Assembléia que lhe dá um significado cultural. Por exemplo, na próxima semana, o historiador José Joffily, de Londrina - exdeputado federal pela Paraíba até 1962 - estará autografando seu " Londres / Londrina " num dos espaços da Assembléia. Que isto anime a atual mesa diretora de AL a dinamizar promoções culturais, e seguindo o exemplo dos gaúchos, fazer com que o nosso Legislativo não se restringa apenas a politicagem. Afinal, uma imagem cultural é bem mais positiva do que aquela de brigas entre os homens que a população elege e que, ganhando hoje mais de Cr$ 15 milhões por mês, fazem muito pouco em favor do Estado que os sustenta.
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