Bicho do Paraná, o exemplo da limpeza
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 28 de maio de 1986
Enquanto dezenas de presumíveis candidatos à Assembléia Legislativa e a Constituinte continuam a emporcalhar a cidade, pichando muros, viadutos, árvores e edifícios públicos, candidatando-se assim ao troféu Porcolino, há os que, inteligentemente, estão sabendo aproveitar áreas autorizadas com mensagens criativas e simpáticas. E dentre estes, o mais ativo tem sido o advogado Luiz Henrique Garcez de Mello, 39 anos, que vem somando vários aspectos positivos em sua propaganda.
De princípio, considerando que os candidatos - que são centenas - representam as próprias correntes migratórias do Paraná, sem qualquer apelo à tradição, à história do Estado, ele está destacando o nome de suas famílias - Garcez e Mello, intimamente ligadas com a história política de Curitiba. Neto do prefeito João Moreira Garcez, que em longas administrações marcou a transformação urbana - além de ter sido o construtor do primeiro "arranha céu" de Curitiba dos anos 30 - Luiz Henrique acrescentou ao nome familiar uma imagem muito feliz - "Bicho do Paraná" (popularizada a partir da música de João Lopes) e, simpaticamente, lembrando o outro lado de sua personalidade descontraída, também o apelido pelo qual é conhecido: "Gordo Mello". Com todas estas informações, tem uma imagem visual para públicos específicos: os curitibanos tradicionais, a geração dos anos 50/60 que com ele se identificou em sonhos e projetos e, sobretudo, a simpatia de quem está disposto a apoiar um candidato que não polui visualmente a cidade.
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Para que sua mensagem atinja os eleitores, de forma intensa mas sem emporcalhar os espaços públicos e privados, Luiz Henrique Oliveira Mello vem usando os relacionamentos pessoais e familiares e obtendo a cessão de muros em toda a cidade. Assim, já conseguiu mais de 200 excelentes locais estrategicamente distribuídos não só nos melhores pontos da cidade como também em bairros dos mais diversos, especialmente na região do Portão e Vila Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, áreas para as quais tem se voltado em sua campanha - já que seus horizontes não ficam apenas na eleição para o Legislativo mas, com todo o direito, quer plantar bases para um futuro projeto que talvez o possa levar ao cargo que, há 50 anos, foi ocupado por seu avô materno.
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Para a programação visual de sua propaganda, com uma ótima escolha de cores e harmoniosa distribuição de tipos de letras, o próprio Luiz Henrique se debruçou sobre as pranchetas e criou o designer [design] - já que em suas atividades profissionais sempre esteve o interesse pelas artes plásticas e fotografia (inclusive com trabalhos premiados), além de uma ligação às artes gráficas - desenvolvidas inclusive profissionalmente. Um pintor, amigavelmente chamado de Humberto da Vinci, pilotando um Volkswagen-75, vem percorrendo a cidade para executar os painéis, já tendo aprontado quase 40 - todos, até agora, respeitados em termos de concorrência. Ou seja, não houve pichamentos nos mesmos por parte dos tradicionais vândalos.
Ligado empresarialmente a vários setores - tanto é que soma indiretamente apoio de 37 categorias profissionais - o ex-estudante de filosofia e jornalismo, Luiz Henrique dirige desde 1982 a Fundação de Assistência ao Menor Aprendiz, entidade filantrópica privada, fundada por seu tio, Manoel Vicente de Oliveira Mello (1907-1978) e que atende hoje 1.200 menores. Os problemas da área são uma preocupação de Garcez de Mello, que se eleito pretende se voltar à área. Uma de suas metas é transformar um grande imóvel na Rua Trajano Reis, onde funcionou o comitê Pró-Jaime Lerner no ano passado - e agora por ele adquirido - para sediar uma unidade de treinamento de adolescentes. Por enquanto, ali está o seu comitê eleitoral, paranisticamente bem estruturado a partir da própria decoração que o identifica com as coisas da terra. Como bicho do Paraná!
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