A bilheteria explica! ... Explica?
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 20 de setembro de 1974
Uma peça como "Freud Explica! Explica" (Auditório Salvador de Ferrante, até domingo em cartaz, 21 horas) pode propor um tema para (acalorados) debates: até que ponto é válida a exploração de um problema sério, atual, como o homossexualismo, para uma diversão sem maiores [conseqüências]?
Homem bem humorado, diretor competente e inspirado escritor ("El Justicero", "A Mãe Que Entrou em Órbita"), João Bethencourt, o diretor da peça de Ron Clark e Sam Bobrick, compara a viagem do provinciano Vitor Tabouré (Guilherme Corrêa) a Paris e a sua descoberta de uma nova moral, com o seu filho único, Michel (Fernando Reski) vivendo com um "amigo íntimo", José (Ivan Senna) como se "fosse um descendente modesto dos Gulliver, dos Munchausen e outros famosos viajantes". Pois, na concepção de Bethencourt, "o país que ele visita e que o espectador perceberá logo é diferente como era os de seus ilustres predecessores. E também, como sempre, o país visitado é um reflexo e um comentário sobre o país da realidade, ao que Vitor, os autores de Vitor, Swift e todos nós pertencemos".
"Freud Explica? ... Explica?", sucesso em todos os palcos onde tem sido apresentado - e que em Curitiba espera repetir este êxito, com um faturamento expressivo - poderia ser reduzido, num juízo mais rigoroso, a uma chanchada apelativa. Mas, disto é salva pela direção segura de
Bethencourt, pelos premiados (e funcionais) cenários criados por Arlindo Rodrigues e, principalmente, pela interpretação de Guilherme Corrêa, 45 anos, 21 de teatro, que volta a Curitiba 12 anos depois de aqui ter estado pela última vez. Sua criação do provinciano Vitor é o ponto alto desta comédia propositadamente descompromissada, embora proponha, justamente, a discussão em torno de um tema contemporâneo, que deve preocupar muitos pais. Mas os risos fartos, a fórmula agradável encontrada por Bethencourt para conduzir este seu espetáculo
fazem com que "Freud Explica! Explica!" não preocupe ninguém. Ao contrário, o mais digestivo, o mais laxante espetáculo - e afinal, como diz Luiz Gonzaga Junior, o que a platéia quer é ser feliz. E gargalhadas fáceis o espectador encontrará na peça que está em cartaz no Teatro Guaíra. E se pretende apenas isto, pode se considerar recompensado pelos Cr$25,00 que deixar na bilheteria.
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