Login do usuário

Aramis

A boa safra com os livros sobre museus

O mecenato cultural tem se revelado como uma das formas mais vigorosas para o enriquecimento da bibliografia brasileira. Apesar da crise econômica, a cada ano vem aumentando o número de grupos empresariais que graças a sensibilidade de seus dirigentes tem sabido investir em patrocínio de livros, álbuns de arte e também discos, com trabalhos do mais alto nível. E os investimentos feitos parece que tem dado um retorno promocional-cultural-institucional que justifica a continuidade dos projetos, haja visto que grupos como Norberto Odebrecht, da Bahia, Volkswagen do Brasil, Banco Sudameris e Safra - para só ficar em alguns exemplos, tem a cada ano que passa, proporcionado que obras cada vez mais valiosas (e sofisticadas) sejam produzidas. Destinadas prioritariamente aos seus clientes e amigos, as edições de arte tem sido também distribuídas a bibliotecas, jornalistas e estudiosos - e, muitas vezes, parte das edições são colocadas a venda, a preços que, embora aparentemente altos, são econômicos - considerando o que custa um simples best-seller em brochura. O Banco Safra é um dos grupos econômicos que melhor tem sabido patrocinar projetos culturais. Já chega ao terceiro volume, a série de livros-álbuns sobre museus brasileiros. São volumes 21 x 28 centímetros, capas duras, uma média de 300 páginas, impressos em papel couchê, com centenas de fotografias em cores e preto e branco que documentam os acervos de nosso grandes museus. Desta forma, o Banco Safra está proporcionando que, a exemplo do que acontece na Europa e Estados Unidos, os nossos museus também tenham obras documentais - referenciais, que possibilitam que se tenha na biblioteca ao menos a memória visual do tesouro plástico-artístico que cada instituição guarda no original. Na Europa e Estados Unidos, os museus possuem alguns, livros, coleções de slides e mesmo filmes ou, ultimamente, tapes, documentando seus acervos - sem falar em gadgetes e toda uma linha de merchandising que possibilita, aliás, renda extra. No Brasil, salvo exceções, a documentação de nossos museus é precaríssima - o que faz com que somente com apoio de empresários da sensibilidade e visão como os dirigentes do Banco Safra, se torne possível a produção deste material. O primeiro dos livros-álbuns sobre os museus paulistas em edições patrocinadas pelo Banco Safra foi produzido em 1982 e se inseriu entre atos comemorativos que assinalaram a passarem dos 35 anos de fundação do Museu de Arte de São Paulo. Editado pelo diretor do MASP, o professor Pietro Maria Bardi, o volume apresentou o acervo deste Museu fundado por Assis Chateaubriand, em 1952 e considerado o mais importante da arte ocidental existente na América Latina, documentando as escolas e artistas que o formam, dando relevo a uma série de obras, mostradas num sistema pouco comum neste gênero de comunicação. Visou-se mostrar detalhes nas medidas originais a fim de que o leitor passasse a se interessar pelo modo de pintar ou esculpir do artista. Já em 1983, com edição do padre Antônio de Oliveira Godinho, o Safra patrocinou o volume sobre o Museu de Arte Sacra de São Paulo. Pela primeira vez, no Brasil, o acervo inteiro de um museu do gênero foi publicado "em veste gráfica que não temem confrontações com as edições européias ou norte-americanas", como disse padre Godinha no prefácio. Finalmente, em 1984, o Banco Safra patrocinou o livro-álbum sobre o Museu Paulista da Universidade de São Paulo, editado por seu diretor, Orlando Marques de Paiva. Dentro das comemorações do cinqüentenário de fundação da USP, a edição deste livro, destinado a tornar público o acervo do Museu Paulista, à base de farta, variadas e bastante representativa amostragem, além de constituir dúplice e significativa deferência do Bando Safra, refletiu, de maneira inequívoca, o encarecimento dos diretores do Safra pelas coisas do mundo cultural. Inserido na comunidade, servindo a população e uma das primeiras entidades a ocupar-se de pesquisa no Estado de São Paulo, o Museu Paulista, de fato integrado à USP desde 1963, ocupa lugar proeminente no plano nacional e internacional, em face dos traços de que se revestem os bens sob sua guarda e tutela. Assim, nas 319 páginas deste precioso volume, temos reproduções em cores de suas peças, didáticos textos preparados por uma equipe de seis redatores e uma apresentação gráfica impecável. Enfim, um volume precioso e a altura da importância do Museu Paulista da USP. Bastariam os volumes sobre o MASP, Museu de Arte Sacra e por último o Museu Paulista para já darem ao Banco Safra um destaque em termos editoriais. Entretanto, a mesma instituição financeira vem patrocinando uma série de mapas culturais com o título de "Brasil Histórico", também já com três volumes lançados. Em mapas avulsos, temos referenciais guias de cada cidade ou capital em que este banco atua. São dezenas de informações, inteligentemente ilustradas, que no conjunto formam obras de fácil e prática leitura. Distribuídas avulsamente pelas agências de cada área, reunidos formam livros-mapas que deveriam servir de exemplo a iniciativas semelhantes a outras instituições. Infelizmente, nem todos os empresários tem a mesma visão que os dirigentes do Safra para as coisas culturais.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Leitura
32
31/03/1985

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br