Com "O Gato", a nova literatura do Canadá
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 31 de março de 1985
Pouco se conhece da moderna literatura canadense no Brasil. Por isto merece atenção a iniciativa da Difel em lançar "O Gato" de Yves Beauchemin (552 páginas, tradução de Octávio Mendes Cajado, capa de Josmar Fevereiro, Cr$ 45 mil). Nascido em Quebec, 44 anos, Beauchemin é considerado hoje um importante escritor canadense. Já foi comparado - na Inglaterra e França, respectivamente - a Charles Dickens e Rabelais, tal o encanto universal da sua literatura. Desde o seu primeiro romance, "I'Enfirouapé", pelo qual mereceu o Prêmio Paris-Quebec, em 1975, tem sido entusiasticamente recebido pela crítica.
Trabalha como pesquisador da Rádio Quebec, na área educacional. Seu avó, que foi editor de um jornal na mesma cidade, muito influenciou a sua infância. Já aos 8 anos de idade, escrevia versos humorísticos e aos 12 fazia um esboço de 200 páginas para um romance. "O Gato", obra que o traz agora ao Brasil, foi escrito durante 7 anos e lançado (em 1981) no Canadá, logo se tornou um best-seller na França, sendo depois traduzido para 8 idiomas. Em 1982, obteve o Grande Prêmio Literário da Comunayté Urbaine de Montreal.
O plot de "O Gato" é interessante: Florent Boissoneaul, morador de Montreal, sonha em possuir um restaurante especializado em cozinha "Quebecois". Certo dia, socorre um transeunte acidentado e é observado por um ancião. Tal gesto lhe trará sorte. Ele consegue ter o seu restaurante, mas o aparente "benfeitor" - Egon Ratablavatsky - se mostra como símbolo do azar e da humilhação. Mais: Ratablavatsky, uma fascinante personagem, onipresente e onipotente, simboliza a força e a novidade do dinheiro numa sociedade impiedosamente capitalista. Ele é o milionário dominador que, por capricho, talvez, escolhe as suas vítimas e as esmaga, usando para isso o seu poderio econômico.
Além desses dois personagens, nos quais se centra a crítica de Beauchemin a sociedade, há outros tipos fascinantes: o garotinho Emile, de 7 anos, já alcoólatra, que adota Florent e Elise como pais afetivos; Mr. Picquot, um cozinheiro excêntrico e hilário e, para justificar o título, o gato Déjaneur.
Uma narrativa agradável, na tradição do romance picaresco.
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