Caiu prestígio do ministro Furtado
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 21 de junho de 1986
Em poucos meses o ministro Celso Furtado, da Cultura, conseguiu decepcionar todos os setores. Começou apoiando a censura a "Je Vous Salue, Marie", de Godard, e, posteriormente, a interdição da música "Merda" de Caetano Velloso, fez declarações absolutamente infelizes em relação a vários assuntos e na crise da Funarte meteu os pés pelas mãos. Infeliz na escolha de seus assessores - e tem dado provas nacionais disto - Celso Furtado acaba de merecer uma feroz - e justa - crítica do escritor José Louzeiro, presidente do Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro.
Demitindo-se do Conselho Nacional de Direitos Autorais, José Louzeiro assina corajosa carta sobre "Censura & Autoritarismo" no último número do "Jornal da Cultura", órgão oficial do Fórum Intersindical dos Escritores.
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Discordando das atitudes do ministro Celso Furtado, Louzeiro diz que "o artista brasileiro, o intelectual brasileiro que foi às urnas brigar pela redemocratização do país não aceita tutelas. Queremos um ministro que saiba o que fazer no sentido de desenvolver democraticamente o processo cultural. Nada mais, nada menos".
Mais adiante, diz Louzeiro: "Os regimes autoritários se fazem, assim. Haverá sempre um ministro a dizer que os artistas precisam ser fiscalizados, que o catolicismo corre perigo por causa deles, dos artistas, que o palavrão em uma letra de música dói aos ouvidos. É o começo".
Numa atitude leal e de acordo com sua dignidade, Louzeiro renunciou ao seu cargo no CNDA, para não compactuar com a política do ministro Celso Furtado.
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Na mesma edição do "Jornal da Cultura", em primeira página, um editorial faz outras denúncias: "Jamais poderíamos supor que o ministro Celso Furtado fosse assumir o Ministério da Cultura com um discurso de direita. Igualzinho aos outros todos que têm passado pelo governo neste país. E o que é mais surpreendente: que o sr. Celso Furtado tenha admitido que no decreto da constituição do MinC constasse um artigo (7º) em que fica estabelecida a obrigatoriedade de o SNI participar conosco do processo cultural.
Era só o que faltava. Pelo cacife internacional que tem o ser. Celso Furtado, bastava que ele tirasse a caneta do bolso e riscasse o Art. 7 do tal decreto, até para ver o que ia acontecer. Ocorre que ele não fez isso. Ocorre que nenhum artista ou escritor tomou conhecimento do decreto. Nada foi revelado a ninguém e a peça está em vigor.
Os segredos tramados em Brasília começam a preocupar. O ministro garante ter grandes planos para dar ênfase à cultura nacional, ao mesmo tempo em que fala na política do mecenato. Os outros ministérios vivem (e muito bem) às custas dos impostos que nos são cobrados. O artista terá que sair por aí de pires na mão, implorando à burguesia. É surpreendente o sr. Celso Furtado. Até aqui, cada vez que ele planejou, nós, os interessados na ação no MinC, perdemos espaço".
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