Canto dos sambistas
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 19 de junho de 1977
Noite ilustrada (Mário Souza Marques Filho, Pirapetinga-MG, 1929), é, dentro da MPB, um de nossos melhores sambistas. Com quase 30 anos de carreira, só em 1962 conheceu o sucesso ao gravar "Volta Por Cima" (Paulo Vanzoline), mas, logo depois, seria, imerecidamente, alijado do elenco da philips. O bom Noite passou então algum tempo sem gravar, esteve na Continental, fez 2 elepês na Tapecar e, agora reaparece ("Noite Ilustrada Vale Uma Parada", Victor 103.0198, abril/77). Ele próprio esclareceu-nos, há algumas semanas, em depoimento especial, que este é um discoteste, para reaproximá-lo com o seu público. Assim, ao invés de lançar novos sambas, inclusive suas próprias composições (que assina como Marques Filho), preferiu regravar belas músicas de Chico Buarque ("Olho Nos Olhos", "O Que Será", "Mulheres de Atenas" , "Vai Trabalhar Vagabundo", e o delicioso chorinho lançada no mercado). Noite mostra seus méritos de sambas, no balanço de "Malandro" (Jorge Aragão/Jotabê), "Quantas Lágrimas" (Manacê), "Perdoa" (Paulinho da Viola) e mostra que também pode ser romântico ("Onça", "Meu Mundo Caiu", de Maysas); alegre ("Deixa", Baden Powell/Vinícius de Moraes; "Antes Ele Do Que Eu", Paulinho Soares) ou dramático ("Brasa", Lupicinio Rodrigues/Felisberto Martins; "Jornal de Ontem", Romeu Gentil/Elisiário Teixeira). Enfim, Noite Ilustrada vale muito mais do que uma parada: mas não precisa fazer concessões (como gravar "Maria Baiana Maria" e "Tudo Está No Seu Lugar" de Benito Di Paula, como fez neste elepê) para merecer o nosso respeito. E admiração!
Carioca de Engenho de Dentro, sambista da Portela, autor de sambas de enredo como "Passargada: O Amigo do Rei" (1973) e "Macunaíma" (1975), David Correa fez, afinal, o seu primeiro elepê (Menino Bom", Phonogram/Polydor 2451/084, 1976), onde tem chance de mostrar não apenas outros de seus bons sambas ("Velhos Carrilhões", "Império dos Aruãs", "Condomínio", "Navio Velho", "Na Linha da Barra", "Samango", "Bonde Piedade"< todos com diversos parceiros), mas também mostra sambas de gracia do Salgueiro ("De Onde Que O Dinheiro Vem", "Tá Tudo Ai Vovô", e "Que Dança é Está"). Enfim, mais um sambista que tem, afinal, sua vez e hora para interpretar suas músicas.
Jorge Costa é um sambista veterano das noites paulistas, que apesar do grande número de composições e estilo próprio e comunicativo, não teve ainda sua devida vez e hora no cenário nacional. Seu novo lp ("Samba Sem Mentira", Copacabana, SOLP 405066, maio/77), traz nada menos que 12 composições - algumas divididas com parceiros (José da Glória, Clovis de Lima, Gastão Miranda, Luiz Alcidez Zanateli, Wilson Chumbo e Geraldo Filme). São sambas simples, despreocupados, representativos de um artista popular, simples e amigo. Faixas: "Inferno Colorido", "Pode Voltar", "Não Me Interessa", "Apagar Tua Vela", "Só Vai Na Onda", Bandeira da Paz", "Choro Junto Com Você", "Maria Simplicidade", "Chave do Coração", "Tamborete da Vovô", "Manda Chuva Na Escola" e "Triste Madrugada"- esta o seu maior sucesso, já com dezenas de gravações diferentes.
FOTO LEGENDA- Jorge Costa Samba sem Mentira
FOTO LEGENDA1- Noite Ilustrada Vale uma parada
FOTO LEGENDA2- DMD Corrêa Menino Bom
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