Capitães das Flôres
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 09 de fevereiro de 1975
Em 1937, quando Jorge Amado tinha seus verdes 25 anos, escreveu um livro que se tornaria um documento inesquecível da infância abandonada da Bahia: "Capitães de Areia". Se Curitiba tivesse um romancista com a força social do autor de "Teresa Batista", por certo poderia criar um romance semelhante com o título "Capitães das Flores".
xxx
Os comerciantes e (poucos) moradores da Praça Generoso Marques estão cada vez mais preocupados com a proliferação dos menores abandonados que, pouco a pouco estão transformando a área fronteiriça ao Museu Paranaense, num território perigoso a quem se atreva a não aceitar suas imposições. Bandos de moleques, entre 5 a 16 anos, atracam-se em lutas, muitas vezes brilhando nas mãos dos maiores, punhais e navalhas. Há alguns dias, uma jovem que comprava uma dúzia de rosas numa das bancas daquela praça recusou-se a dar Cr$ 1,00 para um menino de sete anos, que, furioso, cortou sua blusa e seios, com uma gilete. A moça foi medicada no Pronto Socorro e o garoto, é claro, fugiu rapidamente.
xxx
Na quinta-feira, a esposa de um comerciante estabelecido na Praça Generoso Marques recusou-se a comprar um bilhete da Loteria Federal. Em represália, o garoto lhe atingiu brutalmente com um pontapé.
xxx
O assunto é antigo e de difícil solução. Mas não custa lembrar mais uma vez a quem de direito. Afinal existe uma Secretaria de Segurança Pública. E outra de Trabalho e Assistência Social. E de nada adiantará a reforma administrativa e mudança de nomes das Secretarias se os antigos problemas não forem enfrentados.
xxx
Nem tudo é violência. Há também a trágica poesia. Como um garoto de 4 anos que passa o dia recolhendo as flores caídas no chão e as oferecendo aos transeuntes. Ganhando algumas moedas com a qual sobrevive a cada nova manhã.
Enviar novo comentário