Do outro lado da praça, o matagal
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 28 de abril de 1977
É uma pena que o arquiteto paisagista Roberto Burle Marx, o biólogo Roberto Klein e o jornalista Odon Pereira, da "Folha de São Paulo", três das estrelas maiores que se encontram na cidade, convidados pela Prefeitura para palestras na Iª Convenção Nacional de Parques e Jardins (Centro de Criatividade, 27 a 29 de abril) não disponham de tempo livre para conhecer a outra face desta cidade sem portas. Não precisariam ir longe dos hotéis em que estão hospedados: bastaria passar pela Praça Osório para verificar que se de um lado a Prefeitura teoriza bonito e promocionalmente em torno das áreas verdes, de preocupações ecológicas, de outra, há um esquecimento total dos parques e praças.
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Diga-se a bem da verdade, que o lamentável estado da Praça Osório não deve ser creditado exclusivamente ao engenheiro Luiz Rubem Mello de Paula, que há 2 anos substituiu o arquiteto José Maria Gandolfi na diretoria de Parques e Praças. O matagal que tomou conta daquela praça, substituindo belos canteiros de flores e verdes gramados, que durante séculos faziam da Osório uma das mais acolhedoras praças da cidade, surgiu ainda na gestão do prefeito Omar Sabbag. O arquiteto Jaime Lerner, que nos 4 anos que passou na Prefeitura, apesar de todas as sugestões recebidas, nada determinou para que a praça voltasse a ter um aspecto acolhedor. E, o passar dos anos, só tem piorado. A situação: não existe uma única lâmpada acesa, a escuridão transformou certas alamedas em mictórios públicos, as estátuas estão recobertas (algumas estragadas) e ratos e mesmo cobras fizeram do local um pequeno paraíso.
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Houve época em que a Praça Osório tinha um coreto, em que os bancos de madeira reuniam famílias e seus filhos, em que havia flores e pássaros nas árvores. E até o relógio ali existente chegou - embora por curto período - a funcionar. Hoje, a Praça Osório - como muitas outras - é desolação. E até perigosa, pois atravessá-la às 23 horas, considerando a inexistência de iluminação e policiamento, é tão arriscado quanto cruzar o Central Park, em Nova Iorque.
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Esta é a praça mais central de Curitiba, cuja administração, toda orgulhosa, sedia hoje os diretores de Parques e Jardins de todo o País.
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Seria muito interessante que alguém apresentasse o paisagista Roberto Burle Marx ao professor e arquiteto Rudolf Doernach, diretor do Instituto de Biotectura em Stutgart, que a convite do Goethe Institut, está na cidade, orientando um interessante seminário sobre arquitetura biológica. Doernach e Marx teriam muito a conversar, pois ambos identificam-se em suas propostas e preocupações ecológicas. A propósito, hoje pela manhã o arquiteto Doernach, junto com grupo de estudantes, vai percorrer a cidade, procurando exemplos de casas em que a vegetação integra-se à construção. Ficou entusiasmado ao saber que existe uma velha residência, cujas paredes externas são totalmente recobertas de verde - mas o problema é que ninguém consegue lembrar-se do endereço desta original construção. Se alguém puder ajudar, telefone para Heidi ou Helmut Lied, no Goethe Institut.
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