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Aramis

Censura cortou o filme de Bianchi

Sérgio Bianchi, 35 anos, um ponta-grossense que passou parte de sua juventude em Curitiba, morando em São Paulo desde 1966, se dedicou por três anos a [realizar] um longa-metragem. Num casarão abandonado na Brigadeiro Luís Antônio, com 22 intérpretes-amigos - entre os quais alguns nomes que agora começam a se projetar (como a atriz Maria Alice Vergueiro e os atores Rodrigo Santiago e Sérgio Mamberte) - concluiu finalmente, seu "Maldita Coincidência". O filme viria inaugurar o cine Groff, na galeria Schaffer, mas na semana passada a Censura exigiu cortes de 8 minutos: uma [seqüência] em que intérpretes usam maconha e a cena em que um dos personagens ensina como fazer "coquetel molotov". Sérgio está em Curitiba, revendo amigos e repetindo o que tem dito a vários jornais: que não concorda com a imposição da Censura e está disposto a brigar "até onde for possível" para liberar sua obra. A Associação Paulista de Cineastas já divulgou nota oficial de protesto, outras entidades estão se manifestando e, mesmo sem pretender, [Bianchi] vê o seu filme ficar famoso antes mesmo de ser projetado, já que nesta hora em que a Censura libera dezenas de pornoproduções, sem o menor nível artístico, seu filme - "de idéias e conteúdo", é vítima das tesouradas oficiais. Ontem, [Bianchi], repetia aquilo que havia dito a um repórter da "Folha de São Paulo": "Não quer que meu filme se torne conhecido por ter sido censurado, nem quero fazer promoção em torno disso. Depois de me dedicar a ele por 3 anos, viajar sem parar, enfrentar um sem número de dificuldades, empregar 22 atores e atrizes, seria desonesto de minha parte, aproveitar-me disso (...) Meu filme tem coisas boas, brilhantes e idiotas. Mas quero que o juiz seja o público, não a Censura. Quero que "Maldita Coincidência" seja aplaudido ou vaiado pelo público, conforme o caso. Só assim nós, os cineastas brasileiros, saberemos o que aprimorar na próxima vez, mas com o julgamento do público. Agora, com os oito minutos de cortes, a opção que os censores me oferecem é dura: apresentar nos cinemas o filme mutilado ou recorrer a justiça e travar uma batalha burocrática com prazo ilimitado". xxx Falando em cinema, um destaque: o Brasil merece três páginas na "International Film Guide 1980" (543 páginas, U/7,95) que mais uma vez Peter Cowie editou. Completo "who's" who" do cinema mundial, com levantamento pormenorizado da produção em cada país do mundo, no ano de 1979, o "Filme Guide" apresenta a matéria sobre o cinema brasileiro assinada por Luiz Arbex, ilustrando com uma cena de "As Filhas do Fogo", de Walter Hugo Khouri, onde aparecem Marisa Malbouison e Paola Morra. Desde 1964 que Peter Cowie aponta em seu guida cinco "diretores por ano", buscando sempre valorizar - antecipadamente - cineastas ainda jovens. Apesar de, há 16 anos passados, ter feito justiça a Visconti, Welles e Hitchcock, já consagrados, ao lado dos então ainda jovens Truffaut e Wajda. Em 1979, para um nome famoso - Martin Scorsese, foram incluídos Benegal, o alemão Herzog Meszaros e Rademarkers. Para 1980, os cineastas escolhidos como "directos of the years", são os seguintes: o americano Hal Ashby, o dinamarquês Henning Carlsen, o francês Betrand tavernier, o australiano Peter Weier e o alemão Wim Wenders. Ashby, 50 anos, que começou como assistente de montagem do clássico western "Da Terra Nascem Os Homens" (The Big Country, 58, de William Wyller), só dirigiu seu primeiro filme em 1970: "Amor Sem Barreiras" (The Landlord). No ano seguinte faria "Ensina-me a Viver" (Harold and Maude), seguindo-se "A Última Missão" (The Last Detail, 72), "Shampoo" (75), "Essa Terra é Minha Terra" (Bound For Glory, 76) e "Amargo Regresso" 1978). Seu penúltimo filme, "Being There", inspirado em "O Video-idiota" de Jerzy Kosinski, com Peter Sellers (em sua última atuação no cinema), Jack Warden e Melvyn Douglas, foi rodada em janeiro de 1979 e teve indicações ao Oscar deste ano. Agora, conclui "The Hawkline Monster". Henning Carlsen, 53 anos, desde 1949 ligado ao cinema, e com 12 longas-metragens, a partir de 1964, nunca teve nenhum filme exibido no Brasil, assim como o australiano Peter Wier, 36 anos, 4 longas-metragens a partir de 1974 - e um dos destaques do chamado "boom" do cinema australiano (120 filmes lançados nos últimos anos), os primeiros chegando agora ao Brasil). Já Bertrand Tavernier, 39 anos, da geração "nouvelle vague", ex-colaborador do "Cahiers du Cinema", começou fazendo sketches para filmes exibidos anonimamente no Brasil ("Os Beijos", 63; "A Chance e o Amor", 64), mas seus longas-metragens - cinco a partir de 1974, estão inéditos. O alemão Wim Wenders, 35 anos, é mais um fértil cineasta da República Federal da Alemanha, cujo longa-metragem mais conhecido - "O Amigo Americano" (1977, baseado no romance "Ripley's Game", de Patrícia Highsmith) finalmente foi lançado no Brasil, mas ainda está inédito em Curitiba. Seus primeiros filmes foram trazidos até nós pelo Goethe Institut, que, no que concerne ao cinema alemão, tem procurado mostrar sempre o que se faz naquele país.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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Tablóide
8
18/12/1980

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