Cinema para ler - Memórias de Vadim, o homem que amou BB, Deneuve e Jane
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 25 de fevereiro de 1988
Certos livros incomodam mesmo antes de serem escritos. Especialmente quando escritos por gente famosa (ou sobre gente famosa), com revelações indiscretas. Portanto, quando um nome célebre como Roger Vadim, 51 anos, anunciou sua disposição de escrever em torno de suas ex-mulheres, a imprensa mundial, nas páginas de variedades, abriu manchetes. Afinal, neste século, poucos homens tiveram mulheres mais famosas do que este cineasta francês, que como um pigmaleão erótico, transformou pelo menos três das (muitas) atrizes com que trabalhou em nomes internacionais. Começou com Brigitte Bardot - que praticamente revelaria para o mundo em "...E Deus Criou a Mulher" (1956), passou por Catherine Deneuve e, numa fase da então ainda indecisa Jane Fonda, foi importante em sua vida.
Com cada uma, Vadim fez filmes e amor. Muito amor, nem poderia ser diferente. Houveram outras mulheres-atrizes, como Anette Stroyberg, mas Bardot, Deneuve e Fonda foram as mais famosas.
Tão logo foi anunciada a publicação, há dois anos, jornalistas procuraram as ex-esposas de Vadim, querendo saber suas reações. Apesar de temerosas da forma com que seriam rememoradas - Bardot mais indiferente, Catherine em sua posição glacial e Jane Fonda com uma visão bem americana - todas tiveram que desistir de quaisquer projetos de processo. Cavalheirescamente, Vadim se limitou a relatos formais, sem baixar o nível - e nem seria adequado. Entretanto, não faltou quem caísse de pau em cima de sua indiscrição em falar de três mulheres com quem, mais do um relacionamento profissional, teve profundas ligações sentimentais.
Bom roteirista, autor de dois livros anteriores - a autobiografia "Memórias de Diabo" (editada no Brasil há 8 anos), e "The Hungry Angel" (misturando sua vida pessoal e a ficção), Vadim justifica logo no prefácio a razão de voltar ao passado, falando de suas ex-mulheres: "É um depoimento para meus netos. Se algum dia eles sentirem o impulso de descobrir como era seu avô ou sua avó, tremo só em pensar na imagem que iriam formar a partir dos milhares de artigos, histórias e biografias que apareceram em mais de 50 países nos últimos 30 anos".
Com Catherine e Jane, Vadim teve filhos - hoje já adultos. As duas se tornariam, independentes de sua participação, superstars - cada uma em caminho próprio. Brigitte, após ter sido o mito sexual dos anos 50, se voltaria a atividades ecológicas - o que a faz, de quando em quando, ser notícia, embora, no último número (fevereiro/88) da mais luxuosa revista de cinema editada atualmente no mundo, a "Studio", tenha sido assunto para matéria de capa.
Portanto, "Bardot, Deneuve e Fonda" se constitui num livro de leitura atraente e fascinante. Em tradução de Julio Fischer, lançado no Brasil pela Best-Seller, poucos meses após ter aparecido na Europa, se constitui não apenas numa obra com fofocas e revelações indiscretas de um cineasta - amante famoso em todo mundo, mas, num depoimento informativo, com detalhes curiosos e que justifica a leitura.
Com sinceridade, diz o próprio Vadim: "Houve uma razão especial para eu escrever este livro: a necessidade de falar das alegrias, dos prazeres, do sofrimento e dos tumultos que conheci ao lado de três mulheres notáveis. Não pude resistir a tentação de abrir o cofre do passado, em que tantos tesouros ímpares foram armazenados. Não queria chegar ao fim da vida como um avarento colecionador dessas maravilhosas lembranças e imagens de contos de fadas, que algum dia terão desaparecido juntamente comigo, no mundo em que tudo é apagado".
LEGENDA FOTO - BB, Catherine, Jane Fonda: mulheres de Vadim.
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