Formigas de Werner, desprezo de Polanski e o sexo de Jean
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 27 de março de 1988
A Globo e a Pole Vídeo estão apostando na inteligência do público. Só isto para justificar a edição de títulos tão atraentes quanto arriscados em termos de repercussão junto aos tradicionais consumidores, que nas locadoras querem apenas os sucessos de bilheteria.
Depois de lançar "O Estado de Coisas", filme em preto e branco, inédito no circuito comercial, realização de Wim Wenders, a Globo traz um inédito de Werner Herzog, outro dos mais importantes cineastas alemães: "Onde Sonham as Formigas Verdes", rodado há 5 anos, na Austrália.
Depois de ter mergulhado na Amazônia, para realizar "Fitzcarraldo", Herzog foi para a Austrália, onde em pleno deserto fez um filme de mensagem ecológica: um grupo de aborígenes defende um local sagrado contra o avanço dos tratores de uma companhia de mineração. É o local onde as formigas verdes sonham, na terra mitológica criada pela imaginação delirante de Herzog, um cineasta sempre voltado a projetos grandiosos em diferentes partes do mundo. "Aguirre a Cólera dos Deuses", foi o seu primeiro mergulho na Amazônia, onde voltaria depois com a saga de "Fitzcarraldo" - ambos estrelados por Klaus Kinski. No ano passado, finalmente concluiu "Cobra Verde", baseado num personagem real, nascido no Brasil e que se transformou em vice-rei de um país africano no século XVII. Foi o último filme que Herzog fez com Klaus Kinski, ator temperamental, violentíssimo - e que após brigas homéricas com Herzog, afastou-se definitivamente de suas produções.
Em "Onde Sonham as Formigas", Kinski não atuou. No elenco, artistas desconhecidos no Brasil: Bruce Spence, Wandjuk Marika, Roy Marika, Ray Barret, Norma Kaye e Collen Clifford. A fotografia é de Jorg Schmidt-Retwein.
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Três outros títulos interessantíssimos que a Globo Vídeo está colocando neste mês nas locadoras: "Repulsa ao Sexo", "O Desprezo", e "No topo do Mundo".
"Repulsion", filme que Roman Polanski rodou há 23 anos na Inglaterra é, em nosso entender, o mais denso e profundo filme do cineasta polonês, cuja obra sempre esteve marcada com personagens complexos. Prêmio especial do júri e da crítica no festival de Berlim em 1965, "Repulsa ao Sexo" também deu a Catherine Deneuve a oportunidade de uma de suas melhores atuações, como uma jovem manicure belga, que vivendo em Londres, no apartamento de sua irmã, casada e feliz, sente-se cada vez mais neurotizada. Seus problemas de sexo mal resolvido conduzem a uma situação trágica. Sem ser um filme erótico, "Repulsion" trouxe, entretanto, seqüências da maior sensualidade - especialmente nos momentos em que apenas os ruídos de amor no quarto do casal (vivido por Yvone Furneaux/John Fraser) chegam aos seus ouvidos. Excelente fotografia (em p&b) de Gilbert Taylor e jazzística trilha sonora de Chico Hamilton.
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Foi em "O Desprezo" (Le Mépris, 1963), que Jean Luc Godard colocou uma das frases que se tornaram antológicas. Numa seqüência, o milionário interpretado por Jack Palance, diz; parafraseando Goebels:
- Quando falam em cultura, pego logo meu talão de cheques!
Irônico, cruel, satírico, "O Desprezo", partindo de um livro-roteiro de Alberto Moravia sobre uma estrela (Brigite Bardot, no auge de sua beleza), é uma obra de alta voltagem criativa. No elenco, como ator, aparece Fritz Lang (1890-1976), um dos mestres do cinema alemão. Também atuam Michel Piccolu e Georgia Moll.
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De um romance de John Fowles - autor de "O Colecionador" (filmado por Wiliam Wyller, em 1965) e "A Mulher do Tenente Francês" (levado ao cinema por Karel Reiz, em 1979), o cineasta Roberto Knights fez de "No Topo do Mundo" (The Ebony Tower) um elogiado filme de 80 minutos. Produzido para a televisão inglesa, reuniu em seu elenco o veterano Laurence Olivier e a belíssima Greta Scacchi, atriz destinada a ser a grande musa deste final de década, tão logo aqui sejam lançados "Good Morning, Babilonia", dos irmãos Taviani e "Veneno Branco", de Michael Redford (que representou a Inglaterra no IV FestRio), nos quais ela aparece com destaque. De uma beleza plácida, mas com muita sensualidade, Greta tem tudo para acontecer no star system. O lançamento em vídeo deste "No Topo do Mundo" já antecipa sua beleza, num filme com fotografia de Ken Morgan. O argumento do filme é interessante: o velho pintor Henry Breasley (Olivier) realiza seu sonho de outono de vida, ao se afastar para uma paradisíaca propriedade rural no Sul da França em companhia de duas belas jovens (Greta Scacchi/Toyab Wilcox) dispostas a satisfazer todos os seus caprichos. Mas o seu paraíso é quebrado com a chegada de um jovem pintor abstrato (Roger Rees), que rompe a harmonia sonhada pelo velho pintor.
Um filme inédito, que merece ser verificado!
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