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Aramis

No tempo da Manivela

Bendita a paixão de Fernando Albagli, diretor industrial da Editora América, pelo cinema. Pois é graças ao seu entusiasmo pela usina dos sonhos que a "Cinemin" voltou a circular, há 4 anos, com uma nova roupagem, transformando-se na mais referencial das publicações especializadas - restrita basicamente ao cinema, enquanto que o boom de revistas que a era do vídeo trouxe, a maioria procura-se, comercialmente, com este novo segmento. "Cinemin" não! Para ele, o cinema é, antes de tudo em tela larga - e abriga especialmente matérias sobre a era de ouro do cinema, os grandes cowboys, sérias histórias, graças a colaboração de pesquisadores que tudo sabem sobre o mundo da tela. E, por certo, Albagli foi o grande gerenciador para que outro pesquisador notável, Jurandyr Passos Noronha, 72 anos, mineiro de Juiz de Fora, desde 1922 residindo no Rio de Janeiro, publicasse o belo, enternecedor e indispensável "No Tempo da Manivela" (Embrafilme/Ebal/Kinarte, apoio cultural da Kodak, 285 páginas). É um livro sobre a magia do cinema. Brasileiro. Como diz o sempre erudito José Carlos Avellar, crítico e ex-diretor de assuntos culturais na Embrafilme, "Era uma vez o cinema... Não existe frase melhor para introduzir os textos e fotos que compõe este livro". Realmente, é uma viagem ao mundo da tela, com centenas de ilustrações, textos rigorosamente corretos - que valem como um sight-seeing sobre o cinema no Brasil, os pioneiros, as primeiras exibições, as musas e galãs dos anos 20,30. Numa área sempre carente de material informativo, "No Tempo da Manivela" complementa, com texto, aquele básico material que há muitos anos Jurandyr Noronha vem pesquisando - e que resultaram em três longas e seis curtas de exibição indispensável em qualquer mostra do cinema brasileiro, especialmente neste ano em que se comemora os 90 anos de sua chegada ao Brasil: "Panorama do Cinema Brasileiro" (1968), "Cômicos... mais Cômicos..." (1970), "70 Anos do Brasil" (1974) e os curtas "Carmem Santos" (1969), "Inconfidência Mineira - Sua Produção" (1969), "Humberto Mauro" (1970) e "O Cinegrafista de Rondon" (1970). Acrescente-se ainda os textos e roteiros escritos para "José Medina" (1969) e "Adhemar Gonzaga" (1969), dirigidos por Júlio Helbron. Na introdução ( "O Caçador de Fotogramas"), Paulo Roberto Ferreira lembra que o cinéfilo Jurandyr descobriu nas páginas de "Cinearte", em março de 1927 - portanto há 16 anos - a "existência" do cinema brasileiro e a partir da leitura de um artigo do pioneiro crítico Pedro Lima (cuja morte no dia 2 de outubro de 1987 sequer foi registrada nos obituários dos jornais), passou a se interessar pelo cinema brasileiro. No início dos anos 30, Jurandyr já fundava um grupo de amadores para filmar em 9,5mm, escrevia artigos para jornais e revistas da época e, em 1940, começava a trabalhar em cinema na PAN Filmes de Jaime Pinheiro. Em 1942, o português Renato Soares Monteiro o convidava para ser cinegrafista da Tupi Filmes. Foi a PAN Filmes - Filmes Artísticos Nacionais, que dirigiu seus primeiros documentários ("A Evolução da Arquitetura no Brasil", "A Evolução dos Transportes no Brasil", "Variações sobre Música Popular" etc.). em 1943 entrou para o DIP como cinegrafista, onde ficaria até 1948, quando convidado por Humberto Mauro foi trabalhar no Instituto Nacional do Cinema Educativo, onde dirigiu mais quatro documentários, inclusive o premiado "Uma Alegria Selvagem" (1966).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
17
27/03/1988

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