As "movie magazines" para alegria dos cinemaníacos
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 27 de outubro de 1986
Voltou a circular o "Jornal do Cinema", tablóide mensal editado pelo publicitário Sérgio Torres, associado a Stanley de Souza, um apaixonado pelo cinema americano e que atualmente assina coluna no "Jornal do Estado". Há três anos houve a primeira tentativa, que não passou de três números. Agora, Sérgio e Stanley esperam conseguir recursos para fazer com que a publicação tenha continuidade. Os 3 mil exemplares estão sendo distribuídos em cinemas e a intenção é ampliar a publicação, tornando-a inclusive mais crítica - e menos oficial em termos de divulgação de releases de filmes estrangeiros que estãos sendo lançados.
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Fazer publicações voltadas ao cinema é uma aventura que exige muito idealismo - e uma crônica de boas intenções que não deram certo já justifica até um longo ensaio. Há 16 anos, era o crítico Lélio Sotomaior Jr. que lançava um bem cuidado tablóide - o "Cinema 70" - , que, infelizmente não passou do primeiro número. A "Opção Cultural", que Gil de Almeida vem editando em nome da Federação dos Cine-Clubes do Paraná deixou de cobrir apenas a área de cinema e vem se tornando bastante polêmico na abordagem de outros assuntos - inclusive com uma abertura para a produção cultural alternativa e a divulgação da cultura do mundo árabe ao qual ele está bastante ligado.
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Em Porto Alegre, a interessante "Moviola", que estava desativada desde o ano passado, voltou a circular, mas com uma edição especial, organizada por Marco Papaleo, lançada por ocasião da quarta edição da Mostra Internacional do Cinema, tradicional evento cinematográfico da capital gaúcha. Embora não competitiva, a exemplo da Mostra que Leon Cakoff realiza em São Paulo, os filmes recebem notas do público. Nesta quarta edição o filme preferido foi "O Ano do Dragão", de Michael Cimino - projetado meio anonimamente em Curitiba (Cine Palace Itália).
Em segundo lugar, ficou "O Fantasma", filme polonês de Marck Mowickiu que mesmo exibido sem legendas, conquistou o público devido à plasticidade da fotografia.
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Paralelamente à Mostra, houve uma exposição de cartazes contemporâneos franceses de cinema, que o Clube de Cinema de Porto Alegre e a revista Moviola poderão trazer a Curitiba, caso haja interesse da Fundação Cultural. Outro evento foi o lançamento do livro "Cinema Gaúcho - Uma Breve História " do crítico Tuio Becker.
A edição especial da "Moviola", que circulou na ocasião, traz matérias ilustradas sobre recentes filmes - como "Shangai Surprise", com Madonna e "Haunted Honeymoon", a nova comédia de Gene Wilder. Os interessados na publicação podem enviar Cz$ 25,00 ao Clube de cinema de Porto Alegre (Avenida Borges de Medeiros, 915, 7º) para receber, por via postal, o exemplar.
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Com distribuião gratuita (em Curitiba, nas salas de exibição da Fundação Cultural) o "Cine Imaginário", editado pelo Núcleo Imaginário, do Rio de Janeiro, em formato tablóide, já chegou ao 10º número, o que é importante considerando-se a dificuldade deste tipo de publicação. O cineclube Estação Botafogo (Rua Voluntários da Pátria, 88, CEP 22.270, RJ) vem editando "Tabu", enquanto que em Goiás, um grupo de ex-alunos do Curso de Comunicação Social está publicando a revista "Cisco" (Rua 49, quadra 47, lote 13, Vila Itatiaia, CEP 74.000).
Em Belo Horizonte, o Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro - que nesta semana se reúne em Brasília, paralelamente ao Festival de Cinema - edita um boletim, ampliado agora também para os "Cadernos de Pesquisa", cujo segundo volume é dedicado a Vittório Capellaro (1877-1943), um italiano pioneiro do cinema brasileiro.
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A Embrafilmes vem dando ênfase a publicações, graças especialmente à sensibilidade de seu presidente, o paulista Augusto Clio, que anteriormente já dirigia a área cultural da empresa - hoje ocupada pelo crítico José Carlos Avellar. Além de "Filme e Cultura" - chegando agora ao número 47 em 20 anos de existência, há também o "Caderno de Crítica", com textos sobre filmes recentes e o ótimo "Jornal da Tela", editado com a competência de Mary Ventura, que reciclou esta publicação, fazendo-a um útil veículo para divulgação do cinema brasileiro. Há também já dois volumes de "Guia de Filmes", com o levantamento dos filmes realizados entre 1911/1920 e as produções de 1891, além do "Cinejornal", que em seu número 6 ("Dimensões de Mercado - 1984") contém dados estatísticos sobre cinemas, público, arrecadação, exibição, produção e custos de negativos e laboratório no período de 1980 a 1984.
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Na área da iniciativa privada, a "Cinemim", da Editora Brasil América, chega ao 27º número - de uma sétima série (a primeira circulou no início dos anos 50), firmando-se cada vez mais como uma publicação informativa. Editada graças ao entusiasmo que o diretor industrial da Ebal, Fernando Albagli, tem pelo cinema, "Cinemim" tem melhorado de número para número, preenchendo um espaço: a revista capaz de (in)formar novas platéias. Sem ensaios exaustivos e herméticos, mas com levantamento de filmografias, uma história (em fascículos) sobre o Oscar (com os mais completos dados já levantados até agora numa edição brasileira) e também informações sobre filmes nacionais e estrangeiros "Cinemim" atingiu um marketing certo - e, por certo, faz com que especialmente uma nova geração de cinéfilos amplie seus conhecimentos. Com a colaboração de dois "ratos de cinemateca" que possuem o maior acervo de informações do cinema americano e europeu - Gomes de Mattos e Gil Araújo - "Cinemim" é uma publicação referencial e indispensável a quem gosta de cinema. Também está fazendo edições monográficas, tendo lançado já o primeiro volume em homenagem a Fred Zinneman (por sinal, entrevistado por Sérgio Leemann, para a edição que está nas bancas).
A mesma Ebal, acaba de relançar a revista "Aí, Mocinho!", com aventuras quadrinizadas em que os heróis são cowboys daqueles seriados e filmes "b" da Republic dos anos 40/50 - com Rex Alen, Gabby Hayes, Johnny MacBrown (1904-1974), Roy Rogers, Gene Auitry (que chegaram a ter revistas proibidas no Brasil) etc. Esta é a nona vez que "Aí, Mocinho" é lançada - tendo a primeira série sido iniciada em novembro de 1949.
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