Iluminado olhar sonoro de Chick
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 27 de março de 1988
A sonoridade ilumina-se em Chick. Mais do que uma expressão, é a sensação que passa "Light Years" (CBS/GRP, março/88) o mais recente disco deste americano de raízes latinas e que há mais de 20 anos é um dos nomes importantes do moderno jazz - em suas fusões com correntes que chegam até ao público do rock.
Armando Anthony Corea (Chelsea, Massachussets, 12/6/1941), multitecladista, compositor e líder, tem marcado intensamente a música popular da metade dos anos 60 para cá. Com seu Return to Forever, do qual, em certa época, fez parte o casal Airto-Flora, mostrou as aproximações com o som latino e um namoro com a própria música brasileira - o que o fez já ter estendido várias visitas ao Brasil, a última das quais foi no III Free Jazz Festival (setembro/87), quando, a frente de sua Elektric Band foi um dos pontos altos do evento organizado pelas irmãs Dauelsberg e patrocinado pela Souza Cruz.
O som de Chick torna-se cada vez mais redondo e suave - sem abandonar, porém, a trepidação e o embalo que o identifica a platéias jovens. Sente-se isto neste belíssimo "Light Years", que se dá ao luxo de até colocar uma poesia-letra, dedicada a esposa Gayle, que emoldura o desenvolvimento dos nove temas inéditos - todos compondo uma espécie de shite ao redor das palavras olhar/luz: "Light Years", "Second Sight", "Planning", "Prisme", "Time Track", "Starlight", "Your Eyes", "The Dragon" e "View From The Outside".
Na síntese de um quintento, Chick obtém realmente os efeitos de uma banda elétrica - mas sem decibéis irritantes, ao contrário, com harmonia e equilíbrio, graças a competência dos músicos David Weckl (bateria), John Patitucci (baixo), Franck Gambale (guitarra) e Eric Marienthal (sax). Primoroso e delicioso, "Light Years" é um álbum excelente, forte candidato a ficar entre os melhores do ano.
Enviar novo comentário