Está passando meio despercebida, em Curitiba, desde outubro do ano passado, a presença de um talento do cinema brasileiro: o fotógrafo e cineasta André Faria. Contratado de Julio Kruger, das Produções Guaíra, André já fez quase uma centena de video-tapes e filmes publicitários, contribuindo bastante para que a mais antiga produtora da cidade - que andou desativada há anos - voltasse a disputar o mercado, fazendo feroz concorrência à Sir, de Percy Tamplim, que hoje procura capturar clientes também no eixo Rio-São Paulo.Cineasta dos mais inquietos, autor de um filme tão polêmico quanto (ainda) desconhecido, "Prata Palomares", que permaneceu dez anos proibido pela Censura, André Faria não deseja deixar Curitiba (o que deverá acontecer no final do ano) sem aqui desenvolver alguns projetos culturais. A primeira idéia era a montagem de uma peça muito original ("Mulhers de Antenas"), que seria desenvolvida com um novo grupo teatral. Infelizmente, surgiram tantas difículdades (e nenhum apoio da Fundação Teatro Guaíra), que André acabou arquivando o projeto. Agora, estimulado por sua atual musa, ele que no passado já foi marido de Itala Nandi (com quem tem um filho, Giulianno Gemma Nandi Faria, 13 anos), André está desenvolvendo nada menos que três cursos básicos para cinema, teatro e publicidade no Studio Rita Pavão. Com uma carga horária de 18 horas mensais e duração de 5 meses, os cursos preenchem uma necessidade para muitos jovens que buscam algo de prático em termos da criação no cinema, teatro e publicidade. Com experiência de quase 20 anos em atividades artísticas André desenvolveu um curso de direção para cinema, teatro e publicidade inicialmente (2 meses) em laboratórios, exercícios de direção, interpretação de textos e desenvolvimento de roteiro. Nos três últimos meses, haverá a parte mais estimulante: a direção coletiva de um curta- metragem de ficção, desenvolvido dentro do próprio curso. xxx Paralelamente, André orientará dois outros cursos: um de interpretação e outro de direção de fotografia. Os cursos terão uma primeira parte teórica, com aulas específicas em cada especialidade e, nos três meses seguintes a integração de esforços para a produção do curta-metragem, cuja temática ainda não foi definida - para o qual, naturalmente, André está procurando um co- produtor. xxx André Faria, paulista, 42 anos, morou em l965 em Curitiba, onde frequentou curso de arquitetura. O fascínio pelo cinema e pelo teatro levou-o a mudar-se, em 1966, para o Rio de Janeiro, onde começou a participar de atividades profissionais já em l967 como estagiário do fotógrafo Ricardo Aronovich (hoje um dos mais disputados profissionais na Europa), em "Garota de Ipanema", ajudando, também, na produção de "Perpetuo Contra o Esquadrão da Morte", de Miguel Borges, "O Homem que comprou o mundo", de Eduardo Coutinho, e vários curtas-metragens. Trabalhando como fotógrafo, na produção, roteirista, assistente, Faria não parou mais e seu curriculum indica quase uma centena de filmes que tiveram sua contribuição, entre curtas e longas-metragens. Em 1972, recebeu o Kikito como melhor fotógrafo em "Roleta Russa", de Bráulio Pedroso e, no mesmo ano, seu primeiro (e até agora único) longa-metragem, "Prata Palmares", embora proibido no Brasil, foi levado à Semana da Crítica, no Festival de Cannes. xxx Só a realização de "Prata Palomares", em grande parte filmado no litoral catarinense, justificaria todo um livro, tal os problemas que cercaram a produção, realizada, na época, com o grupo Ofícina, do qual André fazia parte. Dedicando-se ao cinema publicitário, André já fez mais de 200 produções, muitas delas premiadas internacionalmente. Agora morando em Curitiba e dirigindo comerciais para a Guaíra, André começa a dividir um grande know-how com quem se interessar em frequentar cursos de direção, interpretação e fotografia.

Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:

Veiculo: Estado do Paraná

Caderno ou Suplemento: Nenhum

Coluna ou Seção: Tablóide

Data: 04/09/1985