Contos de mineiro
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 18 de novembro de 1984
E`streando literariamente em 1981 com o livro "Confidências do viúvo", o escritor mineiro Orlando Bastos obteve consagração imediata: a obra mereceu o prêmio "Galeão Coutinho", outorgado pela União Brasileira de Escritores, além de referências elogiosas de críticos como Antônio Houaiss e Alfredo Bossi. Agora, uma oportunidade de cotejar o talento (ou não) de Bastos: está saindo pela Ática o livro "De repente, às três da tarde", reunindo novos contos.
Ambientadas numa pequena cidade mineira - hipotecária Bom Jesus da Serra - as histórias presentes de "De repente, às três da tarde" falam de personagens interioranos vivendo seu dia-a-dia de aparência calma, no ralantado passar das horas da província. Sá Rosária, e sua reza forte; o valentão Cabo Anfrísio, guardião da lei e da ordem na cidade, ou, ainda, o cego Sionorfeu, cantador de pressárgios, são alguns dos personagens destes contos.
Contudo, em cada narrativa, Orlando Bastos nos revela o lado oculto deste mundo de suposta monotonia e calma: a inquietude e o inusitado surgem para mostrar traços de existências em choque com valores morais arraigados, descortinando homens e mulheres perdidos em situações bruscamente originadas no cotidiano. As paixões, os dramas pessoais, a atmosfera de enígma que perpassa certos acontecimentos comuns são, dessa forma, alguns dos temas prediletos de Orlando Bastos, tratados sempre com fino humor. Ao mesmo tempo lírico e mordaz, ele realizou em em "De repente, às três da tarde" um trabalho literário com estilo personalíssimo. Uma literatura como diz Alfredo Bosi, no prefácio da obra penetra e traduz "a riqueza secreta que ainda se esconde nas veredas tantas vezes batidas da região e da tradição".
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