Country aplaudiu, mas <<Tribo>> fica só nisso
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 28 de maio de 1980
Quando idealizou uma nova peça tendo Curitiba por tema, para marcar a reinauguração do Teatro de Bolso, o prefeito Jaime Lerner chegou até a sugerir um título provisório: << Revista dos Bairros >>. Encomendado o texto a Paulo Vitola (que há 9 anos passados havia feito as belíssimas músicas de << cidade Sem Portas >>, texto do jornalista Adherbal Fortes de Sá Júnior), convocado Maurício Távora - que estava no Rio, interpretando um dos papéis centrais de << Rasga Coração >> de Oduvaldo Viana Filho (Teatro Villa - Lobos), o espetáculo foi montado rapidamente, estreando a 30 de março - e por um mês, no liliputeano espaço do Teatro de bolso (talvez o único do mundo a possuir camarim unissex), não chegou a 2 mil o número de pessoas que foram ver o espetáculo. Em 3 noites, por falta de público - o espetáculo foi suspenso. Ou seja, calculando-se o investimento da produção e quem viu a peça - a proporção é que o custo << per espectador >> passa dos Cr$ 2 mil. Mas isso já registramos aqui, bem como o fato do Teatro de Bolso ter sido confundido mitório público. Concebido como uma << Revista de Bairros >>, a comédia musical que, no final, acabou sendo intitulada << Ó Curitiba, Nossa Tribo. Salve, Salve >>, deveria percorrer ao menos os principais bairros da Capital, após a temporada no Teatro de Bolso. Ocorre que simplesmente a Fundação Cultural alegou falta de verbas-embora estranhamente, para outras (discutíveis e onerosas) promoções existam amplos recursos. Maurício e Jane Távora esperavam o Prefeito voltar de sua viagem a Dakar e expuseram que lamentavam que o esforço de 19 pessoas - entre intérpretes, músicos, técnicos - etc- ficasse restrito a uma temporada tão reduzida Lerner, embora cordial, institui na tese de que << os recursos se exauriram para esta atividade >>. E assim, a peça que se pensava tinha sido produzido com recursos públicos para ser vista também fora do centro ficou restrita aos poucos espectadores que compareçam no teatro da praça Ruy Barbosa (alias, a temporada não teve qualquer apoio promocional da FCC, apesar dos esquemas oficiais de publicidade existentes). Ironicamente, talvez sejam os clubes que venham a proporcionar que << Ó Curitiba, Nossa Tribo, Salve, Salve >>, possa ser vista por mais algumas centenas de pessoas. O exemplo foi dado sexta-feira, pela diretoria do Graciosa Country Club. Acolhendo sugestão do jovem diretor cultural, Nelson (Beto) Justus, os dirigentes do Country patrocinaram uma apresentação de << Nossa Tribo... >>, aplaudida de pé, ao final - e que agradou tanto, ao ponto de valer a Maurício convite para que estréie ali sua nova produção, a comédia << Atendendo a Pedidos >>. Outros clubes, com dirigentes sensíveis à cultura - como o Santa Mônica Clube de Campo, cujo presidente Ivo Arzua, ex-prefeito, sempre foi um homem voltado à comunidade - possivelmente também se interessarão em que o espetáculo com texto de Paulinho e belas músicas de Marinho Galera, seja levado aos seus associados. Infelizmente, são poucas as entidades que dispõe de recursos para bancar o espetáculo - que envolvendo quase 2 dezenas de profissionais, tem um custo mínimo de Cr$ 40 mil por apresentações. Mas considerando que a produção foi idealizado para ser levada a população, não deixa de ser revoltante imaginar que a própria Prefeitura tenha boicotado a carreira do espetáculo, justamente quando deveria atingir as faixas mais humildes, que merecem também verem bons espetáculos. Evidentemente que o texto teria que ser adaptado aos diversos bairros, já que muitas citações, de pessoas conhecidas em alguns círculos, não teriam sentido quando a peça fosse levada à Vila N.S. da Luz, Abranches ou Pinheirinho.
Maurício e Jane Távora, que se empenharam na realização de << Ó Curitiba, Nossa Tribo, Salve, Salve >> por mais de 120 dias, já desistiram de tentar sensibilizar os donos do poder municipal em torno do erro que constitui cortar a carreira de um espetáculo, ironicamente encomendando pela própria Prefeitura. Sábado à tarde, em sua residência, Maurício e Jane, mais Odelair Rodrigues e Danilo Avelleda, fizeram a primeira leitura de << Atendendo a Pedidos >>, Comédia que Maurício terminou há poucos dias e com direção de Eddy Antônio Franciosi, terá pré-estréia no Country Club, será levado a um circuito por várias cidades do Interior e outros Estados, só depois vindo para um dos teatros de Curitiba. Homem independente. Maurício não defende a encenação de << Ó Curitiba, Nossa Tribo, Salve, Salve >>, nos bairros, movido por interesses pessoais embora obviamente, isso representa honesto trabalho profissional a ele e mais 18 outras pessoas: o curioso é que o próprio anfitrião os pratos (ou seja, o espetáculo), ates que os convidados mais importantes - a população mais humilde - tenha chance de fazer um << refeição cultural >>.
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E o que aconteceu com o liliputeano Teatro de Bolso, que desde o dia 1.º de maio está fechado? Fala-se que já estaria em reformas, para ter mínimas condições de funcionamento. Os mais pessimistas acham que será mesmo transformado num mitório público. De tudo isto fica uma lição: não basta pensar em fazer um novo espaço cultural, se não houver bom planejamento, humildade para se ouvir sugestões e, principalmente, a mínima competência para utilizá-la. Afinal, o dinheiro público é do contribuinte - que deve << cobrar >> quando vê seus impostos mal utilizados!
FOTO LEGENDA - Maurício
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