Da história de Filomena ao erotismo poético de Gladys
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 02 de janeiro de 1992
Uma das mulheres mais inteligentes de sua geração, a lapeana Filomena Gebran, hoje doutora em história da América Latina na Universidade Federal do Rio de Janeiro - de cujo departamento foi uma das mais brilhantes diretoras - está preparando, a convite do editor Fernando Gasparin, da Paz & Terra, um livro com textos de vários autores ligados aos 50 anos da descoberta da América. Filomena integra também a comissão de alto nível que prepara um congresso internacional de historiadores de todo o mundo que, no final do ano, se encontrarão no Rio de Janeiro para fazer uma revisão crítica e profunda sobre o que foi a chegada do homem branco no continente americano.
A tese que valeu a Filomena Gebran o doutorado em História, "Resistência e Permanência nos Andes Peruanos" - que lhe exigiu três anos de pesquisas e inúmeras viagens pelo Continente será editado este ano pela Paz & Terra, mas dependendo ainda de algumas adaptações que a autora está fazendo. Em compensação, acaba de ser relançado, em segunda edição, o seu livro "Conceitos de Modos e Produção", originalmente publicado em 1978.
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Falando em mulheres que escrevem livros importantes, a Editora Rosa dos Tempos lançou há poucas semanas o interessante "A Intentona de Vovó Mariana" de Maria Helena Malta (autora de "Brasil, Um Sonho Intenso"), em que oferece uma visão diferente sobre a tão discutida Intentona Comunista em 1935. Maria Helena gravou mais de 100 horas de depoimentos de homens e, principalmente mulheres que participaram direta ou indiretamente, da insurreição feita por milhares (em sua maioria) que lutaram por "Pão, Terra e Liberdade", sob o comando de Luís Carlos Prestes.
Já Rachel Kamkhagi uniu-se a Oswaldo Saidon para organizar um volume em que 17 mulheres e apenas dois homens desenvolvem textos para uma "Análise Institucional do Brasil". Com enfoques em torno da favela, do manicômio, da escola pública, da universidade, os textos deste volume lançado pela Rosa dos Tempos/Record, "exprimem a realidade, a partir de análises institucionais que nelas trabalham, se jogam, se sujam, pesquisam, se cansam, criticam, tudo menos manter-se na assepsia esterilizante do especialista" como diz a diretora editorial, Rose Maria Muraro, acrescentando: "Dissecar a realidade brasileira, suas práticas de poder e manipulação a partir de suas instituições é um dos objetivos deste livro".
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Como o feminismo não é privilégio apenas do sexo feminino, a mesma Rosa dos Tempos editou rapidamente no Brasil o polêmico "Por que os Homens São como São", best-seller no segundo semestre nos EUA e no qual o autor, Warren Farrel, faz uma revelação espantosa: as atuais receitas masculina e feminina, para a realização pessoal, são incompatíveis. Farrel, 37 anos, divorciado, há 20 anos preocupado com a temática do relacionamento e um dos primeiros homens a assumir as vantagens do movimento feminista para o sexo masculino, diz que "a sociedade não nos preparou para vivermos juntos. Os relacionamentos hoje nada mais são do que uma preparação para o divórcio". Para ele, o feminismo, apesar de ter feito muito pela mulher, "criou a idéia de que ela calçou os sapatos masculinos e que o homem - vilão - insiste em não mudar, sabotando a felicidade comum".
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Em sua imensa generosidade, nossa maior poeta, Helena Kolody, foi ao lançamento de "Cabeça de Mulher" de Gladys Gama França, no hall do auditório Salvador de Ferrante há alguns dias.
Verdadeiro happening, a badalada sessão teve até a presença do percussionista Josemar Oliveira, da banda Jorge Bento Munhoz da Rocha Neto, que deu um clima afro à noite em que a autora - entrando agora na área da poesia erótica - distribuiu "comendas de arte" a vários amigos que com ela vem colaborando em sua divulgação literária.
LEGENDA FOTO - Nossa poeta maior, Helena Kolody, no lançamento do livro de poesias eróticas de Gladys França ("Cabeça de Mulher") no Teatro Guaíra.
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