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Aramis

Do Chorinho ao Samba

Mais do que um simples espetáculo de fim-de-semana, as duas únicas apresentações "Do Chorinho ao Samba" (Teatro do Paiol, hoje e amanhã, 21 horas) se constituem, na verdade, em didáticas récitas sobre uma das mais importantes fases de nossa música popular, produzida com tal esmero que mereceria ser incluído pelo Ministério da Educação e Cultura, em seu oneroso - nem sempre devidamente eficiente - Plano de Ação Cultural. Só o fato dos espectadores de Londrina, onde o espetáculo teve sua estréia nacional na noite de quinta-feira, terem exigido, ontem à noite, uma segunda apresentação - que não estava programada, confirma o altíssimo nível desta mostra da evolução de nosso cancioneiro, pesquisada, escrita e narrada por Ricardo Cravo Albin, homem a quem a cultura popular brasileira já deve muito, principalmente por seu notável trabalho na consolidação do Museu da Imagem e do Som - GB, até hoje imitado por congêneres em todo o País. Estruturado inicialmente como um simples show para completar parte das palestras sobre MPB que vem dando na Fundação Casa de Ruy Barbosa, na GB - a exemplo do curso de Introdução [à] MPB que coordenou em Curitiba, em outubro do ano passado, "Do Chorinho ao Samba", apresentado inicialmente no auditório do IBAM, teve tanta repercussão que o animou a trazê-lo ao Paraná, numa estréia profissional - que a exemplo de outro espetáculo aqui lançado ("Se Você Jurar", com Ismael Silva e Carmen Costa, fevereiro/73) terá posteriormente temporadas regulares na Guanabara e São Paulo. Apoiado no talento do melhor flautista do Brasil - Altamiro Carrilho, 50 anos, 39 de música e do cantor-compositor Paulo Tapajós, 61 anos, 47 de música, acompanhados por quatro excelentes instrumentistas, o espetáculo inicia com uma música-marco do Choro, "Flor Amorosa", do flautista Joaquim Antonio da Silva Callado (184801916), o primeiro a cultivar um gênero musical urbano essencialmente brasileiro, ainda na sociedade preconceituosa do 2º império. O espetáculo passa, a seguir, pelo trabalho da pioneira Chiquinha Gonzaga (Francisca Edwiges Gonzaga - 1847-1935), primeira maestrina brasileira e primeira mulher a escrever música popular no Brasil para o teatro de revista, inclusive autora da primeira marcha carnavalesca carioca, "O Abre Ala", que será interpretada por Paulo Tapajós, extraordinária figura humana, desde 1927 ligado [à] nossa música e que, portanto conheceu Chiquinha Gonzaga, sobre [a] qual dará um depoimento especial. Dois dos mais conhecidos temas de Ernesto Nazareth (1866-1934) - "Apanhei-te Cavaquinho" e "Odeon" serão apresentados por Altamiro e seu grupo. Paulo Tapajós, considerado o grande cantor das obras de Catulo da Paixão Cearense (1866-1945) interpretará suas 3 mais conhecidas músicas: "Cabocla de Cangá", "Ontem ao Luar" e "Luar do Sertão". E após Catulo, o espetáculo entra na fase do Samba com "Lamentos" e "Carinhoso" de Pixinguinha (Alfredo Rocha Viana - [1889]-1973), autor do primeiro samba gravado no Brasil ("Pelo Telefone", 1917) e Sinhô (José Barbosa da Silva, 1888-1930). E "Do Chorinho ao Samba" tem muito mais, fazendo com que o espetáculo mereça esta colher-de-chá: quem for brasileiro tem a obrigação de aplaudir este espetáculo hoje e amanhã no Teatro do Paiol.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
4
21/09/1974

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