A música de Chiquinha no piano de dona Clara.
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 10 de agosto de 1980
No ano passado o Estúdio Eldorado, que sob a orientação de Aluízio Falcão vem produzindo excelentes elepês, ofereceu um básico disco onde Leci Brandão ( esprestada pela Polygran) e Vânia Carvalho (excelente cantora, dispensada da CBS após um maravilhoso elepê) interpretavam composições de Chiquinha Gonzaga (Francisca Edwiges Neves Gonzaga, Rio de Janeiro, 17.10.1847 - 28.02.1935). Era uma oportunidade de se conhecer um pouco da imensa obra deixada por esta mulher de talento e coragem, que ficou conhecida como autora da primeira marcha carnavalesca ("Ó Abre Alas, 1899), mas que fez, entretanto, centenas de composições. Agora é o incansável Maurício Quadrio, diretor de projetos especiais da Odeon/EMI, que oferece outro documento precioso para melhor compreensão da obra desta pianista maestrina compositora: "O Piano de Chiquinha Gonzaga" (Emi/Angel, 31Co63422908, julho/80).
Para interpretar 10 peças de Chiquinha Gonzaga, Quadrio foi buscar Clara Sverner, excelente pianista, com vários álbuns gravados no Exterior, e que interpreta desde composições singelas, quase ingênuas, até outras mais sofisticadas e de estrutura mais elaborada. A musicologa Edna Diniz, em interessante texto de contracapa, fala da obra de Chiquinha Gonzaga, que "fixou o rítmo brasileiro ao introduzir na polca elementos musicais que mais tarde passaram a ser identificados no maxixe e no samba como música carioca. Escreveu em gíria sonora a crônica do Rio de Janeiro oitocentista".
Entre muitos méritos que fazem de "O Piano de Chiquinha Gonzaga" um álbum de especial significado, está a seleção de peças que, salvo engano, permaneciam inéditas em discos, ao menos existetes no mercado. Assim, o álbum abre com "Iara", valsa, feita presumivelmente por ocasião do nascimento de sua segunda neta, em dezembro/1891; "Suspiro", tango, sem data; "Sonhando" e "Oh! Não me iludas", são duas habaneras; "Genéa", valsa, que em 1915 recebeu uma letra de Paulo Silva Araújo; "Plangente", outra valsa. "Amapá", maxixe, da revista de autoria de Francisco moreira de vasconcelos, encenada no Rio, em 1894, no Teatro Santana, com este título. "Hip" é uma polca, editada ainda no período imperial e "Day-Break, Ainda Não Morreu", tango, sem data.
São peças preciosas, em interpretações perfeitas, num álbum dos mais preciosos para a nossa memória musical. Mais uma vez, Maurício Quadrio confirma ser um dos mais lúcidos produtores fonográficos brasileiros.
LEGENDA FOTO 1 - O Piano de Chiquinha Gonzaga.
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