Quadrio, o record-man sinônimo de qualidade
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 21 de junho de 1987
Desde que chegou ao Rio de Janeiro -e lá se vão três décadas - o italiano Mauricio Quadrio criou uma griffe de qualidade unida aos projetos musicais que vem realizando. De sólida formação cultural, formado pela Academia Santa Cecília, Quadrio tem deixado, em todas as gravadoras, rádios, estúdios, etc. por onde tem passado a sua marca de produtor do mais alto nível. Foi diretor musical das rádios Globo e Jornal do Brasil - ali institucionalizando o esquema música-hora certa-informação que até hoje é receita segura, introduziu especiais e elevou o nível destas programações. Na Rádio Ministério da Educação e Cultura é, há mais de 20 anos, produtor de programas exemplares. Mas tem sido como produtor fonográfico que sua presença é maior. Na antiga Imperial, um selo da Odeon, depois na Polygram - onde desenvolveu o projeto "Quem tem medo de música clássica?", provando a existência de um imenso público interessado na música erudita - e na Odeon, novamente, com o projeto "Operação Ópera", Quadrio lançou centenas de elepês - simples, álbuns duplos e mesmo caixas - com o que há de melhor na música erudita. Hoje, na área de projetos especiais da CBS, continua com seu entusiasmo e vigor, contribuindo para que se justifique a frase "disco é cultura" - infelizmente observada por poucos produtores.
Aliás, são raros, raríssimos, os produtores que conseguem ter a visão de Quadrio. Se o clássico e a ópera são o seu forte, ele também conhece como ninguém o jazz, a música do cinema, a música brasileira, o som documental (foi o idealizador e primeiro diretor do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro em 1965, embora tenham lhe tentado roubar esta glória), já tendo inclusive produzido discos histórios, com gravações de personalidades mundiais, para a Abril e BASF.
Quadrio, por sua grandeza, competência e significado dentro da indústria cultural é tema pra mais do que uma simples reportagem - todo um ensaio capaz de mostrar as suas múltiplas facetas de homem que, sabendo trabalhar dentro de esquemas empresariais, possibilita a edição de obras realmente culturais - seja através da coordenação de coleções especiais, utilizando pra tanto sua informação enciclopédica do que há disponível nas gravadoras internacionais ou, como produtor executivo, nisto, sem barreiras, realizando desde álbuns com pianistas como Clara Sverner (interpretando a obra de Chiquinha Gonzaga) e de seu amigo Marlos Nobre, com peças das mais avançadas, até revisitações da história do samba e do Carnaval, em elepês que permanecem insuperáveis.
Uma discografia do que de melhor chegou aos colecionadores brasileiros nestes últimos 25 anos incluirá, forçosamente, o nome de Maurício Quadrio em pelo menos 75% dos produtores. Em seu apartamento estúdio em Santa Teresa, rodeado de livros, catálogos, fitas e discos, Quadrio pesquisa, seleciona e monta projetos marcantes, os quais, na CBS, com apoio da diretoria e estimulado por executivos que entendem a dimensão de seu trabalho - como Francisco Rodrigues (imprensa) e Arlindo Coutinho (encargos gerais), pode ver transformados em realidade aquelas suas boas idéias que tanto significam em termos culturais.
Com a visão de um empresário que une o sucesso comercial com o bom gosto artístico, Henrique Sverner, dono da rede de lojas Breno Rossi, Maurício Quadrio está podendo ampliar suas edições: afora os dez discos de clássicos e jazz dentro da produção normal da CBS (agora que foi superada a crise da falta de matéria prima), Quadrio está podendo fazer também uma média de dez lançamentos mensais, em projetos especiais.
Assim é que no mês passado tivemos "The Vlademir Horowitz Collection" (12 álbuns), com a reunião em discos excelentemente produzidos do que de melhor o grande pianista russo gravou no longo período em que foi contratado da CBS. Neste mês de junho, no último dia 14, em lançamento também exclusivo pra a cadeia Breno Rossi (mas que dentro de 180 dias terá uma tiragem comercial para todos os lojistas), uma coleção para dar água na boca de quem ama a música no cinema - "The Hollywood History", com gravações da MGM Records - e que justificarão, naturalmente, matéria especial - pela importância histórica, reunindo grandes musicais de Arthur Freed, a grandiloqüência de Miklos Rosza ("Ben Hur"), o romantismo de Maurice Jarre ("Dr. Jivago"), mas também o que Herbie Hancock mostrava há 20 anos ao criar os sons para uma das mais avançadas obras de Michelangelo Antonioni - "Blow Up". O mesmo Hancock, foi o premiado com o Oscar de melhor trilha sonora de 86 pelo belíssimo "Round Midnight", de Bertrand Tavernier - o melhor filme de jazz da história do cinema, ainda inédito no Brasil, mas com promessa para breve lançamento. No mês passado, a CBS editou a sua trilha sonora, enquanto a Odeon deve ter colocado nas lojas, na semana passada, um outro álbum com temas musicais que não foram aproveitados no filme - mas para ele desenvolvidos ("The Other Sid Of Round Midnight").
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