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Expedito, o homem do PCB, retorna da URSS

Normalmente uma pessoa bem humorada, sorriso franco e sempre de bem com a vida, Expedito da Rocha, o mais conhecido e simpático dos líderes comunistas no Paraná tem estado ainda mais feliz. Voltou há poucas semanas de uma longa viagem a União das Repúblicas Socialistas e, ao lado do sentido ideológico, orgulha-se de ter deixado sua contribuição artística em alguns museus russos. Explica: - Eu sempre gostei de esculpir e não resisti a madeira lipa, que encontrei em abundância na República da Geórgia e, em poucos dias fiz nove esculturas. Como não havia condições de trazer estas peças, doei-as a três museus - que aceitaram prazerosamente. Militante do Partido Comunista Brasileiro desde os anos 40, perseguido e preso durante a revolução, Expedito nunca havia saído do Brasil. Assim, a viagem à Rússia - 45 dias, em várias repúblicas socialistas, atendido com um intérprete e tendo liberdade para "ver o que quisesse", foi uma espécie de prêmio a causa que abraçou. xxx Pernambucano de Buick - "'é este mesmo o nome do lugar em que nasci, escreve-se igual aquela marca de automóvel dos anos 40, lembra-se?" - às vésperas de completar seus 67 anos, Expedito vive no Paraná desde os anos 50. Já trabalhou na lavoura, foi mecânico em usinas em cidades do Norte, teve uma experiência como agricultor em Guaratuba e como operário do setor de indústrias químicas, acabou presidente do Sindicato da categoria por seis anos consecutivos. - Só com o golpe de 1º de abril de 1964 é que encerraram minha carreira sindical - comenta. Como líder sindical nos anos 60, da sede do sindicato dos químicos no edifício Mauá, na José Loureiro - ao lado da redação do semanário "Novos Rumos", sede do PCB (então na ilegalidade) e dirigido regionalmente por Agliberto Azevedo, o simpático Expedito assustava os patrões e autoridades na época. Tanto é que quando houve o golpe militar há 23 anos, não teve dúvidas: desapareceu tão rapidamente que surgiram as mais diversas versões sobre o seu destino. As mais dramáticas diziam que havia sido esquartejado e jogado no rio Belém. Expedito ri quando fala da história: - É verdade que se tivessem me prendido naqueles dias eu teria sofrido violências e por isto entendi que deveria desaparecer. Fiquei alguns dias escondido na casa de um companheiro no bairro de Santa Cândida e depois fui para Mato Grosso. Com documentos falsos, o ágil Expedito refez sua vida naquele Estado. Mas a política estava no sangue e Tiburcio Melo - seu codinome - começou a aparecer novamente, chamou atenção das autoridades e acabou preso por seis meses. - O gozado é que prenderam o Tiburcio. Jamais descobriram que eu era o Expedito, pois então a coisa ficaria feia. xxx Há seis anos, Expedito voltou para Curitiba. O período que passou em Mato Grosso o fez desenvolver habilidades como escultor em madeira e, mostrando talento, acabou expondo suas peças na Casa Romário Martins, apoiado, naturalmente, pelo seu amigo Francisco Marés de Souza, Secretário Municipal da Cultura. Suas esculturas agradaram tanto que vendeu todas "e a procura continua grande". - Só não faço mais por falta de tempo. Apesar da insistência de amigos e companheiros, não quis disputar qualquer cargo nas duas últimas eleições. Mas não está fora da política: é secretário do diretório regional do PCB e acredita que o presidente Wilson Previdi "está fazendo um bom trabalho". - É jovem. Tem boas idéias. Merece apoio. Realista, Expedito Oliveira da Rocha sabe das dificuldades do PCB organizar-se em todo Estado. - Há ainda muito medo, restrições. Mas aos poucos, nossas idéias vão sendo absorvidas. Atualmente há cerca de 5 mil filiados em 36 municípios paranaenses. - A meta é ao menos dobrar este número. Nacionalmente, precisamos chegar aos 30 mil filiados para o Partido ter uma presença vigorosa. Para um homem simples, acostumado ao trabalho desde a primeira infância e cuja opção política nasceu nas lutas sindicais antes mesmo do Estado Novo - quando ainda era mecânico, em Fortaleza - Expedito Oliveira da Rocha é um líder de cultura e visão política respeitável. Há 25 anos, quando ativíssimo dirigente do Sindicato dos Químicos, enfrentava assembléias pesadas e defendia suas idéias. Discordava, brigava - mas nunca chegando a agressão pessoal. É famosa a sua relação com Geronimo Thomé, na época proprietário de uma rede de lavanderias, udenista ferrenho e, naturalmente, anticomunista doente. Ao final das assembléias em que Expedito e Thomé pareciam engalfinharem-se na discussão, os dois acabavam confraternizando quando o líder operário, sorridente, pedia carona para Thomé. Durante os anos em que Expedito esteve exilado, Thomé acabou aparecendo como a eminência parda do curto período do governo Haroldo Leon Perez, envolvendo-se inclusive no escândalo que obrigou Perez a "renunciar" em seu nono mês de governo. Ao voltar a Curitiba, Expedito encontrou Thomé e disse: - Veja como são as coisas: eu acabei preso como subversivo. E você, por pouco que não foi para a cadeia, mas por outro motivo ... xxx Expedito voltou da URSS entusiasmado não só com o lado político-social, mas, sobretudo, impressionado com os "tesouros artísticos" que ali visitou. - Se fosse há 30 anos, talvez me preocupasse apenas com a questão marxista, em termos políticas. Agora, pude aproveitar os museus, a beleza da arquitetura, as construções milenares. Só isto já valeu a viagem. LEGENDA FOTO - Expedito: esculturas na Rússia
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
06/11/1987

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