Falta de critérios na programação dos palcos
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 28 de janeiro de 1986
A ameaça do Teatro da Classe vir a fechar caso não haja acordo na renovação do aluguel entre a Associação dos Produtores de Arte Cênica do Paraná com os herdeiros do imóvel, não é um fato isolado no panorama artístico-cultural da cidade. O Teatro do Paiol, conforme aqui já denunciamos várias vezes, sofre há mais de dois anos um processo de esvaziamento que, em termos econômicos, pode até justificar a sua transformação num centro popular de cultura, destinado a atender apenas ao bairro do Guabirotuba.
Para os auditórios do Teatro Guaíra desconhece-se, até agora, quais os espetáculos programados para o primeiro semestre. O novo Teatro da Esquina, pertencente ao SESC, na rua Visconde de Nácar, até hoje não teve qualquer preocupação de apresentar uma programação artística regular, apenas abrindo as portas aos eventuais grupos que ali desejam se apresentar. Sem qualquer critério artístico ou preocupação de formar um público que se habitue a freqüentar a nova casa de espetáculos. Confortável e bem equipada, ao que consta.
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Os auditórios da cidade - mantidos onerosamente pelas entidades culturais, que empregam centenas de funcionários - sofrem um mal crônico: apenas recebem os espetáculos que lhe são oferecidos. Mesmos a Fundação Teatro Guaíra, com sua estrutura paquidérmica, não se preocupa em formular um calendário que traga a Curitiba os grandes e importantes espetáculos nacionais e internacionais, que são apresentados no Rio, São Paulo e Porto Alegre. Ao contrário, sua diretoria ficava passivamente, a espera de que os "empresários" viessem buscar as melhores datas, a maioria das vezes para promoções discutíveis - e que, no final acabavam sendo negociados com outros empresários - numa vergonhosa gigolatagem de um espaçol cultural. Felizmente, esta malandragem parece que agora vai acabar com exigências mais rigorosas e editais de concorrência para ocupação dos auditórios Salvador de Ferrante e Bento Munhoz da Rocha Neto - mas cujos resultados ainda não foram anunciados.
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A Fundação Cultural de Curitiba está anunciando também um edital para ocupação do Teatro de Paiol. Oferecido a grupos e empresários locais ou de outros Estados, pretende-se que os eventuais vencedores de datas à disposição arquem com toda a responsabilidade de apresentar espetáculos capazes de atrair um público que, nos últimos anos, tem se mostrado cada vez mais arredio.
A experiência feita no ano passado com o incômodo e diminuto Teatro de Bolso, na Praça Rui Barbosa, com a programação entregue a um grupo semi-amador - os Filhos da Lua - ainda não trouxe resultados práticos. Basta dizer que até hoje, passado quase um ano, nunca os responsáveis pelo menos se preocuparam em sequer divulgar junto à imprensa os espetáculos ali encenados.
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