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Aramis

A força do oscar traz um filme emocionante

Na seqüência de abertura, enquanto os créditos de "A Força do Carinho" (Lido II, 5 sessões) estão sendo projetadas, o espectador imagina, pela discussão que acontece dentro do quarto do motel Mariposa, que uma esposa, desesperada, pede ao marido para não beber mais. Quando a porta se abre, quem deixa a habitação é um outro homem – enquanto o ébrio está deitado no chão. Mais tarde, já recuperado, Mac Sledge – o personagem bêbado da primeira cena – é procurado por um atlético (e mal-encarado) quinteto, imagina-se que sejam desafetos. São, na verdade, jovens músicos que vêm prestar homenagem ao grande artista que foi, antes da bebida Ter destruído sua carreira. No meio do filme, quando em crise por não poder rever a filha, Sue Anne, é humilhado pela ex-esposa, a famosa cantora Dixie, Mac compra um litro de bebida e se põe a rodar pelas estradas solitárias, imagina-se que voltará a beber. Isso não acontece: retorna à sua casa e, ao dizer à companheira Rose Lee, que resistiu à tentação do álcool, tem com ela a única seqüência de amor – um terno beijo. "A Força do Carinho" (Tender Mercies) tem muitas seqüências curiosamente enganadoras ao espectador. Idéias colocadas (ou propostas) num primeiro momento em que se desfazem na (s) seqüência(s) seguinte(s). Propositadamente o diretor Bruce Beresford procura dar algumas pistas (falsas) aos espectadores para, prosaicamente, retornar a uma linha simples, linear e emocionalmente afetiva para narrar uma estória enternecedora. Focando a ação sobre um ex-ídolo da música contry, Mac Sledge (Robert Duvall), que teve sua carreira destruída pela bebida, e sua decisão de permanecer incógnito, num perdido motel na vastidão do Texas, reconstruindo uma vida familiar com a viúva de jovem texano que morreu no Vietnã, Rose Lee (Tess Harper) e seu filho, Sonny (Allan Hubbard), "Tender Mercies" é, como sugere o título original, um filme de sentimentos e emoções. Merecidamente o roteiro original de Horton Foote ganhou o Oscar no ano passado. É uma linguagem limpa, enxuta – que dá ao espectador a mensagem direta dos personagens. Exemplo disto é o monossilábico pedido de casamento que Mac Sledge, tendo abandonado a bebida, faz a Rose Lee, que o havia empregado temporariamente em seu motel – posto de gasolina. Em 1980, interpretando a cantora Loreta Lynn (Loreta Webb, Buhera Holow, Kentuchy, 1935) em "O Destino Mudou Sua Vida" (Coal Miner's Daughter, de Michael Apted) , Sissy Spacek recebeu o Oscar de melhor atriz , derrotando atrizes como Ellem Burstyn (essurection"), Goldie Hawn ("Private Benjamin"), Mary Tyler Moore ( "Ordinary People") e gina Rowlands ( "Glória"). Roberto Duval, quem em 1980 havia concorrido ao Oscar de melhor ator coadjuvante por 'O Dom da Fúria" (The Great Santini, de Lewis John Carlino) acreditou tanto na força do argumento de Horton Foote que não só interpretou o personagem central, como co-produziu o filme, apostou no talento de um novo cineasta, Bruce Beresford (australiano, agora fazendo carreira nos EUA) e ainda revela seu talento de compositor e intérprete, cantando as belas músicas do filme – entre as quais "If you'll hold the ladder", "I've decided to leave here forever" e "Wings of a Dove" ( a trilha sonora foi editada no Brasil pela Odeon, mas, infelizmente não teve qualquer divulgação e dificilmente se encontra nas lojas). Tanto "O Destino Mudou Sua Vida" como "A Força do Carinho" (nesta Quinta e sexta-feira, as últimas exibições) só chegaram ao circuito comercial devido a força promocional do Oscar. Se não tivessem valido as douradas estatuetas aos seus intérpretes, "Coal Miner's Daughter" e "Tender Mercies" ficariam restritos aos Estados Unidos, classificados de "extremamente regionais" . Afinal, apesar da beleza da música country e da fama de alguns de seus intérpretes, os filmes até agora estrelados por Kenny Rodgers e Willie Nelson raramente chegam às nossas telas ( ou, quando são exibidos, como "A Clã dos Seis", com Rodgers, são programados em cinemas de Segunda categoria). Mesmo a vigorosa cinebiografia do mais político de todos os cantores country americanos, Woody Guthrie (Okemah, Oklahoma – 14/7/1912 – Nova Iorque, 4/10/1967), "Destino de Glória"(Boundy of Glory, em 1976, de Hal Hashby) teve um lançamento precário no Brasil, sendo visto por pouquíssimos espectadores. Por isso é importante lembrar a beleza deste "A Força do Carinho", premiado com o Oscar de melhor roteiro e melhor ator (Duvall) e que mostra na simplicidade de sua estória e acima de elementos regionais que os sentimentos humanos fazem a empatia de uma obra de arte. A emoção do reencontro de Mac Sledge com sua filha, Sue Anne – que não via há oito anos, a tentativa de uma maior aproximação afetiva e o trágico final – mas sem ficarem imagens de desespero, ao contrário um proposta otimista – dão a "Tender Mercies" condições de chegar aos corações de todos que sabem apreciar, realmente, os bons filmes. Um belo e emocionante momento cinematográfico – lamentavelmente em dois últimos dias de exibição.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
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24/01/1985

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