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Aramis

Frei César, amigo e parceiro de Nascimento

Paulo Cesar Botas, curitibano, violonista cantor, humanista e frei dominicano. Um dos paranaenses mais admiráveis de sua geração. Uma vivência intensa para seus trinta e poucos anos, uma constante fidelidade aos amigos e visão universalista, que o tem feito percorrer vários países sem deixar de ser brasileiro e curitibano, onde retorna constantemente. Nos anos 60, a voz de Paulo César - uma das mais afinadas, aliás - fazia com que mesmo não católicos fossem à missa que o padre Gustavo Pereira oficiava aos domingos. Optando pela Ordem dos Dominicanos, Paulo Cesar viveu intensamente os anos mais duros da repressão, mas desta vivência resultou material para sua tese sobre a Igreja e a Política no Brasil, após 1964 - concluída em Paris e agora às vésperas de ser lançada pela Vozes. Radicado no Rio de Janeiro, onde desenvolve um sério trabalho editorial junto à Igreja, o frei Paulo Cesar não perdeu, entretanto, suas lições com a música. Ao contrário, tem composto como nunca, seu violão está cada vez melhor e hoje já é uma presença indispensável em certos círculos. Um de seus melhores amigos é Milton Nascimento, ao ponto da jornalista Amélia Rocha Lopes, do "Jornal da tarde", em reportagem de uma página publicada sábado. 27, no "Caderno de Leituras", falar quase tanto sobre Paulo Cesar como de Milton, a propósito do elepê "Sentinela", recem-lançado pela Ariola. Xxx Amigos desde a década de 60, quando se conheceram no convento das Perdizes, em São Paulo, frei Paulo Cesar e Milton desenvolveram uma grande amizade. Diz Paulo: "Nossa relação é absolutamente desinteressada, porque eu não quero ser artista e Milton não quer ser frade. A mediação passa pela relação fraterna e não pelo mundo da arte". São mais de 10 anos, portanto, de observação mútua. Paulo Cesar até escreveu um texto para a contracapa de "Sentinela", que só na semana passada chegou às lojas das cidades: "(...) Temos aprendido a duras penas que barco é o coração e está tudo o que importa onde está o irmão. E nestes 12 anos nos moldamos, barco, irmão, e muitos foram os pontos importantes na resistência da lealdade exigida. Bituca e seu canto. Bituca e sua profecia. Bituca e sua ânsia de encontrar e guardar debaixo de sete chaves e dentro do coração os amigos mais queridos e gratuitos. E na gratuidade desta vida este disco foi sendo gerado. Cada faixa tem uma historia plena de estórias. Tem as fazendas, as viagens, as três pontas da vida de todos nós, as noites de vinho e pão, a febre da despedida, o aperto no peito, o vazio e a alegria do reencontro". Xxx Paulo Cesar chega a participar vocalmente do disco, na faixa que dá título ao elepe Paulo Cesar, aliás, explica o elepe como fecho "de um ciclo na vida e na música de Milton Nascimento". Existiam algumas coisas paradas no ar, não inteiramente resolvidas. Uma delas era a gravação da canção "Sentinela" que, desde 1968, Milton pretendia fazer com o coral dos dominicanos. Mas eles foram perseguidos, presos e separados na época por problemas políticos. Agora houve a gravação, com o dominicano Paulo César, a cantora Nana Caymmi, além dele mesmo cantando na capela do Colégio Notre Dame. Paulo Cesar e Milton tem conversado e discutido muito sobre os entendimentos que os adolescentes especialmente, tem de suas músicas. Paulo Cesar chegou à conclusão de que Milton é uma espécie de resposta à expectativa do adolescente, "um sujeito começando a descobrir a verdade da vida ainda não prostituído, cheio de autenticidade". Maria Amélia relata em sua reportagem que em Curitiba, no ano passado, um grupo de adolescentes estudantes tinha como trabalho homenagear compositores brasileiros. Escolheram Milton e fizeram dança e canto em cima de sua obra. Foram perfeitos, dizem os que viram, "Isto derruba o mito do hermético - diz Paulo Cesar - um rótulo usado por quem está fechado para os valores vitais da experiência humana. É o mesmo que fala em constatação, mas que tem na parede de sua casa um bom Renoir".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
9
01/10/1980

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