"Fronteira das Almas", o mergulho na Amazônia
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 17 de fevereiro de 1989
Em agosto de 1987, quando "Fronteira das Almas" teve sua primeira exibição pública no II Festival do Cinema Brasileiro de Fortaleza a emoção foi imensa. Pela primeira vez um longa-metragem abordava um tema da maior atualidade - a migração - e que trabalhando com um elenco sem superstars oferecia, entretanto, um filme magnífico. Como o festival não era competitivo, nenhum dos (ótimos) filmes ali exibidos foi premiado. Mas se tivesse havido premiações, por certo que o filme de Hermano teria merecido vários. Levado a outros festivais - RioCine, Brasília e no Festival Internacional do I Encontro Cultural da Amazônia, "Fronteira das Almas" ganhou merecidos troféus.
Um filme vigoroso, tecnicamente bem realizado e, principalmente abordando um tema atualíssimo, "Fronteira das Almas" mereceria um lançamento imediato, com especial atenção da Embrafilme.
No entanto, seus realizadores tiveram que sair à luta para conseguir marcar os filmes. Tratando-se de obras polêmicas (e políticas), de idéias, aparentemente com pouca atração para o (grande) público, desinteressam os circuitos tradicionais de exibição.
O filme de Hermano Penna que se constitui - ao lado de "O Amor Não Tem Sexo" (Cine Bristol), como principal estréia da semana, no Groff. Rodado em Rondônia, entre 1986/87, com roteiro do próprio Penna e do jornalista Murilo Carvalho, tem um argumento simples mas que por isto mesmo parece um documentário. Dois irmãos, de uma família dispersa e sem notícias um do outro, lutam pelo direito de se estabelecerem como agricultores, em histórias que se entrelaçam.
Cassiano (Antonio Leite), o mais jovem, recebe um pedaço de floresta virgem num projeto oficial de colonização oficial em Rondônia e depara-se com a falta de recursos para cultivá-lo. Enquanto isso, no Sul do Pará, Tião (Fernando Bezerra) e uma pequena comunidade de agricultores ocupam, há muito, uma área de terras devolutas que o governo prometera legalizar e agora enfrentam constantes ameaças e pressões por parte de um grileiro.
As dificuldades de ambos são crescentes. Suas situações marcadamente distintas a princípio, um ocupando terras legalizadas e outro terras devolutas, nivelam-se progressivamente, convergindo ao mesmo desfecho. Dessa aparente contradição, nutre-se dramaticamente "Fronteira das Almas".
No elenco, há ao menos três nomes conhecidos: Suzana Gonçalves (que chegou a fazer carreira na televisão mas há anos reside em uma fazenda da Amazônia) como Dalvina; Marcélia Cartaxo (em seu primeiro filme após "A Hora da Estrela") como Luciana e Joel Barcelos como o gaúcho Raul.
LEGENDA FOTO - Suzana Gonçalves num personagem desglamourizado em "Fronteira das Almas".
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